Durante essa semana, dez mulheres dos povos Huni Kuĩ, Manxineru, Jaminawa Arara, Shawãdawa e Apolima Arara estão no Centro de Formação dos Povos da Floresta (CFPF), da Comissão Pró-Indígenas do Acre (CPI-Acre), participando da 2ª Oficina de Mulheres Indígenas, Gênero e Gestão Financeira. A atividade, que teve início no dia 24 e encerra no próximo dia 29 de junho, faz parte do Projeto Gestão Sustentável e Proteção Territorial no Acre Indígena, apoiado pela Rainforest Foundation (RFN).  

A programação da primeira oficina abordou a gestão administrativa e financeira de cooperativas e associações – como a construção de orçamentos e as etapas de um projeto, e temas sobre cidadania, empoderamento feminino e direitos humanos. Nessa segunda etapa, as mulheres indígenas estão compartilhando e desenvolvendo formas de organização, venda e produção do artesanato para o fortalecimento cultural. Nos encontros também é discutida a participação e o protagonismo das mulheres nas associações e organizações indígenas. 

A professora e artesã Ayani Damiana Avelino, da aldeia Novo Destino, TI Arara do Rio Amônia, trabalha com artesanatos feito de penas, sementes e madeira, tanto para comercializar, quanto para a o uso nas festas tradicionais do povo Apolima Arara. “Estou aqui no Centro de Formação adquirindo o máximo de conhecimento, pois temos a necessidade de trabalhar com a captação de recursos para fortalecer nossa cultura, nossa comunidade”, explica Ayani. 

Ayani Damiana Avelino, da TI Arara do Rio Amônia (foto: Ila Verus)

A mediadora Fátima Silva, que está conduzindo a oficina junto com a assessora administrativa da CPI-Acre, Lene Araújo, conta que as ferramentas de gestão financeira e administrativa são muito úteis para fortalecer os grupos de mulheres indígenas e suas comunidades. “Estamos atendendo uma demanda dessas mulheres, para que elas possam construir os caminhos necessários para realizar seus projetos, seus sonhos. O pano de fundo é sempre o empoderamento feminino”, explica Fátima.  

No retorno para as terras indígenas, as participantes vão levar kits contendo miçangas de diferentes cores e tamanhos e o compromisso de mobilizar outras mulheres para produção e fortalecimento cultural. “Quando eu voltar para o território quero chamar as jovens para organizar uma grande oficina com mulheres de outros povos e terras indígenas. Meu objetivo é fazer um intercâmbio de artesãs e buscar parcerias”, planeja Vaka Shuda Maria José, da TI Jaminawa Arara do Rio Bagé. Lene explica que essa é uma das atividades planejadas na oficina: “Elas passam pela formação e a intenção é que multipliquem os conhecimentos nas aldeias. Elas saem daqui com um planejamento para realizar esse trabalho coletivo”, completa.

A artesã Samara Manxineru, da TI Mamoadate, conta que as mulheres da aldeia Extrema precisam de equipamentos para beneficiar sementes locais que são aplicadas na produção de artesanatos. “Temos muitas sementes na floresta, mas não temos furadeiras para poder trabalhar. Então meu sonho é fortalecer nossa cultura com uma casa própria de artesanato e todos os equipamentos necessários”, diz.

As mulheres mais velhas do povo Manxineru são mestras na produção de utensílios de barro, e esse conhecimento tradicional vem sendo recuperado e fortalecido entre as mais jovens. “Fazemos panelas para carregar banana, lenha e mandioca. É um utensilio para carregarmos as coisas com mais facilidade, mas também queremos fazer para vender”, completa Samara.   

É grande o papel das mulheres indígenas na gestão do território e em diversas outras atividades realizadas nas aldeias.  Ainda assim, a participação delas é pequena na formulação de propostas, soluções e processos de tomada de decisão. Buscando fortalecer e apoiar o trabalho das mulheres indígenas em coletivos e associações locais, a CPI-Acre vem intensificado a realização de atividades voltadas exclusivamente para o público feminino, sendo essas oficinas uma das ações da Estratégia de Gênero da instituição. (Comunicação/CPI-Acre)