Artistas do coletivo Mahku pintam fachada da 60ª Bienal de Veneza. (foto: reprodução Mahku)

 

“O conhecimento Huni Kuĩ atravessou mesmo com o jacaré”, diz Ibã Sales, artista do Mahku – Movimento de Artistas Huni Kuĩ, referindo-se ao mito kapewë pukeni – o jacaré que serviu de ponte para atravessar o mundo, estampado na fachada de 700 m² do Pavilhão Central da 60ª Bienal de Veneza, maior e mais importante evento de arte do mundo.

As ilustrações sobre os conhecimentos tradicionais e rituais de Nixi Pae do povo Huni Kuĩ são destaque na Bienal intitulada “Estrangeiros em todos os lugares” (tradução livre), de curadoria do brasileiro Adriano Pedrosa, diretor artístico do Museu de Arte de São Paulo (MASP). Em 2013, Ibã fundou o coletivo Mahku com outros artistas da aldeia Chico Curumim, da Terra Indígena Kaxinawá do Rio Jordão, no Acre.  Hoje o Mahku é considerado pelo MASP um dos principais agentes no cenário da arte contemporânea brasileira em geral e, em particular, indígena.

“O povo está todo encantado, nunca viu nada parecido. São três músicas que estão nessa pintura: a travessia do jacaré, outra para pedir permissão para o trabalho e outra de cura”, explica Ibã. Ele está na cidade italiana junto com outros três artistas Huni Kuĩ – Cleiber Bane, Pedro Maná e Acelino Tuĩ – e a artista Kassia Borges. O grupo foi o responsável pela pintura monumental que demorou cerca de 45 dias para ser concluída.

Ibã conta que com a arte ele levou o conhecimento da língua Hatxã Kuĩ para o mundo. “É a informação que a gente trouxe para cá, a nossa língua que incentivamos e fortalecemos nas escolas nas aldeias. É o resultado de um trabalho que desenvolvemos desde 1983. São 40 anos de estudo que começou com a formação de professores indígenas da CPI-Acre, aprendendo a ler e escrever”, destaca.  O artista que também é professor foi  um dos primeiros alunos do curso de magistério indígena iniciado pela CPI-Acre na década de 80.

A 60ª Bienal de Veneza reúne outros artistas indígenas do Brasil e foi aberta ao público no dia 20 de abril, podendo ser visitada até 24 de novembro deste ano. No total, 332 artistas de vários países expõem suas obras no evento. (Comunicação/CPI-Acre)