Como parte da programação do Abril no Acre Indígena 2025, dez alunos do curso de Gestão de Agronegócios do Instituto Federal do Acre (IFAC), campus Transacreana, realizaram uma visita técnica ao Centro de Formação dos Povos da Floresta (CFPF), na manhã desta terça-feira, 15. A atividade integra a disciplina de Agroecologia, ministrada pela professora Joana Dias, e teve como objetivo proporcionar uma vivência prática sobre os Sistemas Agroflorestais Indígenas (SAFs). 

Os estudantes foram recepcionados pelo Agente Agroflorestal Indígena (AAFI) Josias Maná Huni Kuĩ, da Terra Indígena Kaxinawá do Rio Jordão e membro da Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre (AMAAIAC). Na ocasião, Josias destacou sua trajetória como AAFI e consultor indígena, e o trabalho desenvolvido nas Terras Indígenas (TIs). 

Sala de aula do Centro de Formação dos Povos da Floresta. Foto: Ila Verus

A programação incluiu visitas às áreas com modelos demonstrativos de SAFs, aos sistemas de captação de água da chuva, à criação de aves domésticas e quelônios, e às hortas agroecológicas. Toda a atividade foi orientada e conduzida por Josias Maná, pelo técnico agroflorestal Paulo Belo e pela assessora técnica do Programa de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA), Elke Lima dos Santos. Os estudantes também conheceram o Centro de Documentação e Pesquisa Indígena (CDPI) que possui um vasto material de autoria indígena e acervos indigenistas.   

Modelos agroflorestais 

Uma das finalidades dos sistemas demonstrativos do CFPF é possibilitar sua replicação nas aldeias indígenas. Por isso, há uma preocupação em desenvolver modelos viáveis, com baixo custo e pouca dependência de insumos externos. “Os peixes criados no CFPF, por exemplo, não se alimentam com ração industrializada, mas com frutas que caem das árvores ao redor dos açudes e com a produção dos próprios SAFs”, explicou Paulo Belo. 

Para professora Joana Dias, a atividade proporcionou uma experiência valiosa para os alunos. “O Centro de Formação é um espaço histórico do movimento indígena no Acre, com muitos anos de formação continuada e referência em agroecologia amazônica. Ter acesso a esse acervo de conhecimento amplia o horizonte dos nossos alunos e reforça a importância da interculturalidade na agroecologia.” 

A estudante Noelia de Freitas Portirio também destacou a relevância do trabalho realizado no CFPF e pelos AAFIs . “A gente não conhecia as práticas de cultivo dos povos indígenas. Ver o uso da natureza de forma orgânica e sustentável foi muito importante, principalmente para nós, que estamos estudando agronegócio. É um aprendizado que levaremos para a prática.” 

“É importante receber estudantes aqui. Apresentamos o trabalho com produção, reflorestamento, manejo de resíduos e segurança alimentar, sempre com base no conhecimento tradicional indígena”, acrescentou Josias Maná. 

O CFPF é uma escola de agroecologia, espaço educacional, experimental e demonstrativo voltado ao manejo e à conservação dos recursos naturais e agroflorestais. Atualmente, conta com uma área de 34 hectares recuperada com Sistemas Agroflorestais Indígenas, onde estão implantadas unidades demonstrativas desenvolvidas ao longo dos cursos de formação. O Centro também é reconhecido como a primeira Escola de Formação de Professores Indígenas com proposta curricular intercultural, bilíngue e diferenciada oficialmente reconhecida no Brasil. 

Nesse ano, a programação do Abril no Acre Indígena inclui – além da participação no Acampamento Terra Livre ocorrido no início do mês – a visitação de escolas do ensino público ao CFPF e a Oficina de Monitoramento de Agroflorestas, voltada para agentes agroflorestais indígenas. Também será publicado semanalmente a coluna Abril no Acre Indígena, que busca valorizar a produção de autores e pensadores indígenas e indigenistas no Acre, e ampliar o debate sobre direitos indígenas à terra, cultura e educação. (Comunicação/CPI-Acre)