No sentido de realizar ações educacionais voltadas a gestão territorial e ambiental em terras indígenas, foi realizada entre os dias 14 à 28 de junho, assessoria a oito aldeias e comunidades da Terra Indígena Arara do Igarapé Humaitá. Esse trabalho é resultado da parceria entre Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre), responsável pela formação dos agentes agroflorestais indígenas (AAFIs) e a Associação do Povo Shawadawa do Igarapé Humaitá (APSIH).

Visando fortalecer a produção sustentável das famílias do povo Arara, através do incentivo a cadeia de valor do açúcar, farinha, meliponicultura e outros produtos agroflorestais; o projeto financiado pelo Fundo Amazônia/ BNDES tem como intenção proporcionar que esta produção acesse mercados locais por meio de políticas públicas, possibilitando consequentemente a geração de renda e estimulando a garantia da segurança e soberania alimentar desse povo.

De acordo com o agroflorestal José Salustiano, da Aldeia Raimundo do Vale, o projeto é muito importante porque procura fortalecer dentro da comunidade os sistemas agroflorestais e mais do que isso, apoia a produção local, é um incentivo para que a população diversifique sua produção e assim se envolva mais com o trabalho do AAFI. Mencionou também que a assessoria foi muito importante para que o trabalho do Agente Agroflorestal fosse acompanhado de perto pela CPI-Acre e assim comunicar a sociedade, a importância do seu trabalho como categoria social.

As atividades de formação foram traçadas a medida em que as três aldeias e seis comunidades foram assessoradas. Cada local visitado era uma realidade, desde a sua organização interna, como os variados níveis de formação dos AAFIs. A partir de uma reunião para a sensibilização da comunidade acerca dos objetivos da assessoria, as demandas eram levantadas, permitindo-se conduzir as ações de forma participativa.

Através de mutirões com a participação dedicada de lideranças, professores, agricultores, artesãs e estudantes, foi possível implantar e enriquecer áreas de produção agroecológica e realizar diagnósticos e levantamentos agroflorestais nos quintais. Aliado a isso, ocorreram plantio de espécies frutíferas, construção de três hortas orgânicas, de quatro viveiros e sementeiras de mudas agroflorestais.

Sobre a importância da assessoria à formação do AAFI, Francisco Elivalter Pereira da Silva, da aldeia Novo Acordo, destaca: “A assessoria ao trabalho do AAFI é de grande importância para dentro do nosso povo. Vem como forma de incentivar a revitalização da nosso cultura, fortalecer a sustentabilidade de produção das nossas famílias e orientar como a gente pode trabalhar com nossas comunidades, sempre em parceria com ela e com as lideranças. É um momento de esclarecimento para mim e para os outros agroflorestais e assim aproximar a comunidade do nosso trabalho”.

Nesta viagem de assessoria, houve também o apoio do agente agroflorestaL José Marcondes da TI Poyanawa, possibilitando o intercâmbio de experiências em gestão ambiental desenvolvidas em seu território, outra modalidade de formação preconizada pelas ações educacionais da CPI-Acre.

“Este convite para participar da assessoria na TI Arara, ajuda na troca de experiências com os parentes desse povo. Isso é muito importante, poder conhecer a cultura de outro povo, como eles vivem, como se organizam, como trabalham, principalmente o trabalho de cada agroflorestal na sua aldeia. Este intercâmbio também é importante para a minha carga horária, pois esse ano já concluo a minha formação, com a produção da minha pesquisa. Também fico muito feliz pela oportunidade de ajudar este povo, orientar a trabalhar, tanto na parte prática como na teoria e compartilhar tudo aquilo que aprendi na escola da Comissão Pró Índio do Acre. O AAFI sempre precisa envolver no seu trabalho, as lideranças da saúde e educação, para pensar no futuro de cada aldeia, na alimentação de qualidade das nossas famílias, reflorestamento das áreas e conservar o meio ambiente, usufruindo dos recursos naturais de forma sustentável”, avaliou o AAFI Marcondes Puyanawa. 

Além das aulas práticas, as atividades de formação também contemplavam conteúdos teóricos, com destaque para um debate da atual conjuntura, refletindo sobre os efeitos da crise política que constantemente ameaçam os direitos fundamentais e as políticas públicas conquistadas nos últimos anos pelas populações indígenas brasileiras.