Entre os dias 4 e 8 de julho, o Acre recebeu pela primeira vez uma visita de estudo (study tour) da plataforma New Generation Plantations(NGP). O evento, organizado em uma parceria do WWF-Brasil com o Governo do Estado do Acre, recebeu mais de 35 especialistas de 11 países localizados em quatro continentes. O grupo passou cinco dias visitando propriedades rurais dos municípios de Senador Guiomard, Bujari, Xapuri, Acrelândia e Sena Madureira, com objetivo de estudar iniciativas de florestas plantadas no eastado e como elas podem compor paisagens mais diversificadas e resilientes, buscando conciliar desenvolvimento econômico, social e preservação ambiental.
A NGP é uma plataforma idealizada pelo WWF internacional em 2007, cujo intuito é influenciar empresas e governos a tomarem decisões responsáveis do ponto de vista ambiental e social no manejo de plantações. Eventos como visitas de estudo, workshops e conferências desempenham um papel fundamental no trabalho do NGP, visto que são momentos para compartilhar conhecimentos sobre as boas práticas de plantio e aprender com os bons exemplos dos outros.
Hoje, a ferramenta já conta com a participação de 14 organizações, incluindo empresas multinacionais, governos e ONGs. O governo do Acre passou a fazer parte da plataforma NGP em 2012. Com a Conferência do Clima de Paris (COP-21), em dezembro de 2015, a relação ficou mais forte, graças às iniciativas e políticas ambientais do estado, que mantém 87% da sua cobertura florestal e reduziu 62% da taxa de desmatamento entre 2003 e 2012.
Sobre a visita
Nos cinco dias do study tour foram visitadas diversas propriedades rurais com diferentes modelos de produção. O objetivo era aprender e compartilhar experiências observando e debatendo a respeito dos modelos de plantações em relação à viabilidade econômica, inclusão social, conservação de áreas prioritárias e manutenção da integridade dos ecossistemas, como ressaltou o gerente da NGP, o português Luís Neves Silva.
“Estamos visitando áreas dentro da floresta para descobrir como tem sido feita a produção sem destruir a floresta que existe e sem necessidade de abrir áreas novas”, diz ele, acrescentando a importância socioeconômica dessas iniciativas. “Queremos compreender esse modelo que utiliza plantações dentro de uma perspectiva de baixo carbono, além de formas de viabilizar a atividade econômica e os componentes sociais em que as famílias sejam integradas, gerando emprego”.
O evento teve início no auditório da Procuradoria-Geral do Estado (PGE), onde o Secretário de Estado de Meio Ambiente do Acre – professor Edgar de Deus, representando o governo, destacou que apesar da grande importância do agronegócio, a criação extensiva de gado possui baixa produtividade, pequena contribuição para a geração de empregos nas áreas rurais e alto impacto ambiental. “Pensando nisso, o estado do Acre vem focando seus esforços na diversificação produtiva, incluindo as florestas plantadas e as agroflorestas, uma mistura de plantações com assistência técnica qualificada, fomento produtivo e financiamento para uma economia de baixo carbono, contribuindo para a adequação ambiental das propriedades à luz do novo Código Florestal brasileiro”, afirma Edgar.
Após a abertura do evento, foram feitas as primeiras visitas do study tour no Centro de Formação dos Povos da Floresta coordenado pela Comissão Pró-Índio do Acre – CPI/AC -, onde o grupo pôde ver de perto diferentes modelos de agroflorestas e conhecer o trabalho de formação dos Agentes Agroflorestais Indígenas. Nos três dias que se seguiram foram visitadas propriedades com florestas plantadas de açaí, seringueira e madeira, em realidades que incluíam monocultivos e consórcios, desde pequenas propriedades até fazendas de produção em larga escala.
Os participantes tiveram a oportunidade de interagir com o local e aprender diretamente no campo. Para Poá Katukina, Agente Agroflorestal da Terra Indígena Katukina do Campinas em Cruzeiro do Sul, o evento trouxe muitos conhecimentos que serão levados para sua comunidade.
“Estou aprendendo bastante vendo os resultados dos produtores. É uma experiência que eu quero levar para o meu povo e colocar em prática”, comentou.
Projeto de Assentamento Agroextrativista Chico Mendes
Um dos momentos especiais da study tour foi a visita ao Projeto de Assentamento Agroextrativista Chico Mendes, em Xapuri. O guia nesta parte da viagem foi o primo do Chico Mendes, Nilson Mendes, que vive há 43 anos no local.
Nilson, que trabalha como guia no projeto de ecoturismo Pousada Cachoeira, compartilhou com o grupo seu conhecimento, paixão e entusiasmo pelo ambiente em que vive. Além de levar os participantes pela floresta para conhecer o manejo florestal madeireiro comunitário certificado pelo FSC realizado pela associação de moradores, ele também mostrou sua propriedade, que conta com uma área de restauração florestal com alta diversidade de espécies, incluindo a criação de animais silvestres.
O último dia em campo contou com visitas à propriedades com áreas de sistemas agroflorestais onde a seringueira é consorciada com banana, cacau, café e árvores frutíferas, e também de sistemas silvipastoris com diversificação e manejo das pastagens em sistemas de integração com árvores nativas da Amazônia e também com espécies exóticas introduzidas como o eucalipto.
Impressões finais
Após os quatro dias de imersão e estudo in loco das políticas públicas ambientais promovidas no Acre, o grupo retornou ao auditório da Procuradoria-Geral do Estado (PGE) para compartilhamento das experiências e aprendizados, sistematização das discussões e o aprofundamento dos debates sobre as potencialidades, desafios e riscos para o avanço das áreas ocupadas por florestas plantadas no Estado do Acre.
Foi um momento onde os participantes puderam conversar sobre o que acharam da experiência e compartilhar o que aprenderam nas visitas.
Segundo a diretora-presidente do Instituto de Mudanças Climáticas do Acre, Magaly Medeiros, foi gratificante apresentar para os representantes dos 11 países os modelos de inovações que o Acre vem trabalhando.
“As visitas de campo foram um momento de troca de experiências, de como podemos avançar mais ainda nos nossos sistemas produtivos. Da gente, eles levam as experiências práticas que atuam diretamente na redução de emissões de carbono”, disse.
Durante a atividade final, chamada Biblioteca Humana, todos foram encorajados a compartilhar com outra pessoa sua história e como ela se liga à sustentabilidade, fornecendo um ambiente seguro para as pessoas dialogarem e discutirem suas experiências e opiniões.
As visitas a fazendas que estão diversificando seus negócios para se tornarem mais sustentáveis e economicamente resilientes deu aos participantes novo fôlego para que voltem a seus países e aprimorem suas ações.
Para o anfitrião da próximo study tour da NGP, o francês François Guegan, que representa o WWF-Laos, o maior aprendizado que ele levará para seu país é a conexão entre as pessoas, o meio ambiente, o estado, as ONGs e a iniciativa privada, e “como todos trabalham juntos para fazer com que a conservação e a sustentabilidade do meio ambiente se tornem realidade no Acre”, comentou.
Além da coorganização do WWF e do Governo do Acre, a visita de estudo contou com a parceria e apoio da EMBRAPA Acre, Comissão Pró-Índio do Acre e da empresa REFLORESTA.