Agentes Agroflorestais Indígenas e comunidades no fortalecimento da produção agroflorestal

A formação dos Agentes Agroflorestais Indígenas (AAFIs) do Acre tem como objetivo valorizar, intensificar e expandir os conhecimentos e práticas de Gestão Territorial e Ambiental das Terras Indígenas, por meio de processos educacionais técnicos-profissionalizantes, complementares à escolaridade oferecida nas escolas indígenas, integrando-os à educação básica¹.

Com o intuito de promover ações relacionadas a esta formação, ocorreu Assessoria Técnica aos AAFIs e Oficina de Meliponicultura na Terra Indígena Kaxinawá do Rio Humaitá, entre meados de janeiro a fevereiro de 2018.

A Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre), responsável pela formação dos AAFIs, realizou em parceria com a Associação dos Povos Indígenas Kaxinawá do Rio Humaitá (ASPIRH) atividades que buscaram fortalecer a produção agroflorestal destas famílias Huni Kuĩ, com ênfase na soberania alimentar, e aliado a isto permitir o acompanhamento da assistência técnica indígena. Na ocasião destas ações, contamos com a participação do agroflorestal em intercâmbio Edimar da Silva, da TI Katukina Kaxinawá.

Nas assessorias, todos os aspectos do trabalho dos AAFIs são observados e discutidos como continuidade da formação. O assessor precisa ajudar a resolver situações e orientar modificações necessárias em atividades que estão sendo realizadas, ao mesmo tempo, mantendo o princípio básico do diálogo, da participação da comunidade nas ações, de modo a não induzir ou dirigir o processo ².

Dentre as atividades desenvolvidas durante a assessoria, destacamos as atividades práticas de construção de viveiro de mudas, sementeira, manejo de poda, diagnóstico de SAFs e quintais, visita as áreas de produção de alimentos, de criação de animais domésticos e fortalecimento da criação dos animais silvestres, onde foram realizadas novas capturas de enxame de melíponas e monitoramento de caixas já manejadas nos quintais. Foi debatido junto as comunidades, com mediação do AAFI em intercâmbio Edimar, as funções e critérios da categoria Agente Agroflorestal e sua representação pela Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre (AMAAIAC).

O Plano de Gestão da TI Kaxinawá do Rio Humaitá teve espaço de discussão entre as comunidades. No decorrer da plenária do PGTA realizada na aldeia São Vicente, tivemos como facilitadores professores e lideranças, o quais mediavam o conteúdo também na língua indígena, Hatxa kuĩ, facilitando assim o nivelamento das informações com os presentes.

“Está aqui o PGTA que fizemos, que são os acordos comunitários, um planejamento de como trabalhar melhor no nosso território, usando nossos recursos naturais e como usar isso com sabedoria, para garantir o futuro das nossas gerações. Para o nawá, riqueza tem a ver com dinheiro, mas para nós indígenas, a nossa verdadeira riqueza é viver na nossa terra, cheia de caça, pesca, floresta, ar puro. Mas se a gente não fizer com cuidado, depois pode ter muita escassez. O plano não é uma lei proibindo, é um acordo que nós mesmos fizemos.” (AAFI Nilson Tuwe).

O mel e o pólen são fontes nutritivas de alimento, os quais contém propriedades medicinais e que são muito apreciados pelos povos tradicionais.  As abelhas são uma das principais responsáveis pela polinização das espécies florestais, frutíferas e dos roçados nas Terras Indígenas. Inserido no propósito de conservação das espécies de melíponas, assim como a relevância de seus serviços ambientais prestados, a Oficina de Meliponicultura permitiu um diálogo de saberes sobre o manejo adequado destes animais silvestres, evitando assim a destruição dos enxames coletados na mata e nas áreas de implantação de novos roçados.

Com a participação dos AAFIs e de representantes das cinco aldeias da TI nesta oficina, foram realizadas atividades práticas de capturas de enxames, instalação de caixas racionais, revisão de enxames já estabelecidos e coleta de produção, esta degustada e armazenada pelos participantes. Os Agentes Agroflorestais ficaram responsáveis por comunicar com as demais comunidades sobre a capacitação, como também identificar possíveis interessados pela criação, sendo assim um replicador local das técnicas de meliponicultura. Foram distribuídas caixas racionais as aldeias e também realizada prática de construção de caixas com recurso local, a exemplo da palmeira paxiúba.

Uma das linhas de trabalho do AAFI na gestão territorial e ambiental de sua TI, é promover a produção agroflorestal e prestar assistência técnica as famílias de sua comunidade. A formação do AAFI e os projetos que apoiam essa formação, possibilitam ações de fortalecimento da produção agroflorestal. Como parte das atividades desenvolvidas tendo como principal fim a soberania alimentar, foram entregues 24 kits completos para a produção de farinha. Esta ação visa proporcionar a melhoria na qualidade da farinha, como também permitir que mais famílias tenham acesso aos meios de produção, já que anteriormente necessitavam torrar a farinha em poucas casas compartilhadas e que na maioria das vezes, estavam localizadas muito distantes da área dos roçados. Associada ao fortalecimento da segurança alimentar, a produção de farinha é uma possibilidade de renda para estas famílias.

“Eu vejo esse recebimento dos kits de farinha com bons olhos e muita alegria. A gente já produz farinha, mas temos poucas casas e muita roça para trabalhar. Durante o festival cultural que acontece aqui nas aldeias, precisamos comprar produção dos ribeirinhos do Rio Muru. Mas agora vai ser diferente, vamos poder comercializar nossa própria farinha nos festivais e quem sabe até vender pros ribeirinhos e pro município também.” (Seu Chico Baima- liderança da aldeia Boa Vista.)

O trabalho realizado na formação dos AAFIs da TI Kaxinawa Do Rio Humaitá, promovendo e fortalecendo a produção de frutas, de mel de abelhas nativas e de farinha, além de buscar a conservação ambiental e a soberania alimentar das famílias, tem como finalidade desenvolver a cadeia de valor desses produtos, tendo como potencial consumidores finais, os próprios indígenas, em suas escolas, por meio da merenda regionalizada e também as comunidades do entorno.

Este trabalho foi realizado no âmbito do projeto Cadeias de Valor em Terras Indígenas no Acre, financiado pelo Fundo Amazônia/ BNDES e executado pela CPI-Acre. Este projeto conta com ações diretas nas TIs Kaxinawa do Rio Humaitá, Alto Rio Purus, Arara do Igarapé Humaitá e Rio Gregório e em parceria com suas respectivas organizações indígenas: ASPIRH, OPIHARP, APSIH e ASCY.

 

^{1, 2} Plano Político-Pedagógica e Curricular de Formação Profissional e Técnica Integrada à Educação Básica de Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre, AAFIs.