O XXIII Curso de Formação dos Agentes Agroflorestais Indígenas (AAFIs), realizado pela Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre), com o apoio do Fundo Amazônia/ BNDES, teve início no dia 17 de julho, no Centro de Formação dos Povos da Floresta (CFPF) em Rio Branco, Acre. Durante a primeira semana do curso, foram trabalhados com os 30 AAFIs participantes, os módulos de: Artes e ofício, Horta orgânica e Arqueologia Indígena. A seguir um breve relato das principais atividades desenvolvidas em cada módulo.
Artes e ofícios
O módulo de Artes e ofícios tem como objetivo a reutilização de recursos florestais, desenvolvendo alternativas para o reaproveitamento de madeiras caídas, por exemplo. Desde 1996, vem sendo trabalhado Artes e ofícios na formação dos AAFIs, e desde então várias técnicas já foram trabalhadas, desde queimar a madeira, em alguns casos trabalhar com tintas sintéticas, com tintas naturais, em outros com a madeira crua, ou com a utilização de óleos e ceras. Depende do curso, e do que é desenvolvido, geralmente o módulo é de apenas uma semana. É uma atividade bastante abrangente e completa, onde se reaproveita a madeira ou outro recurso florestal, que é transformado em uma peça de arte, o que antes não tinha nenhum valor econômico ou artístico, é agregado valor e se torna um produto que pode ser comercializado.
Durante o módulo deste curso, os AAFIs trabalharam com madeira descartada das serrarias de Rio Branco, e com cipó cravo coletado na área do Centro de Formação dos Povos da Floresta. Esse ano foi trabalhado a madeira para a confecção do banco de encaixe. Neste, a madeira foi esculpida e lapidada, no assento e no encosto, temas e personagens mitológicos. Antes de elaborar a peça, cada agente agroflorestal fez o projeto do banco, acompanhado de uma discussão sobre a anatomia da peça, pensando em uma posição para que as pessoas possam descansar. Há uma técnica, uma forma de fazer para que fique confortável. Além do banco de encaixe, foi trabalhado também a poltrona feita com cipó cravo. O AAFI Lucas Puyanawa, que tem conhecimento e experiência na produção de móveis com cipó, veio para ensinar no módulo de Artes e ofício.
O módulo teve duração de uma semana, porém ao longo do curso, os AAFIs vão aprimorando, refinando sua peça e no final do XXIII Curso de Formação dos AAFIs, as peças serão comercializadas. O módulo de Artes e ofícios também foi trabalhado como atividade econômica, foi discutido entre os AAFIs o valor que poderia ser dado às peças, e como negociar a venda das mesmas, em um exercício interessante. Os AAFIs decidiram que as peças serão vendidas a R$ 300,00 e os bancos de encaixe por R$ 250,00, a expectativa é de que todos os AAFIs vendam suas peças e voltem para suas terras com o recurso da venda de sua arte.
Horta orgânica
Na primeira semana do curso também teve início o módulo de Horta orgânica, este módulo será trabalhado durante as cinco semanas do XXIII Curso de Formação de AAFIs. No início dos trabalhos, os agentes agroflorestais chegaram e encontraram uma horta já implementada, com o objetivo de trabalhar e conhecer o manejo da horta dentro da linha da agricultura orgânica.
Além do manejo, os AAFIs aprenderam também sobre a implementação de uma horta. Durante a primeira semana, fez parte das atividades a discussão e a implementação de uma nova horta. Dessa maneira, com a horta iniciada e a já implementada, os AAFIs podem trabalhar os diferentes estágios da horta. Faz parte das discussões também a compostagem, a ciclagem de nutrientes, os biofertilizantes e biorrepelentes.
A produção da horta já implementada serve para a alimentação dos AAFIs durante o curso, e é uma maneira de demonstrar também que a horta orgânica pode contribuir para a segurança alimentar nas aldeias.
Arqueologia Indígena
O módulo de Arqueologia Indígena (ou Arqueologia da Amazônia e/ ou Arqueologia da Paisagem) vem sendo trabalhado com os agentes agroflorestais em parceria com a Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Acre, há três anos. Neste curso teve como objetivo discutir com os AAFIs sobre os vestígios arqueológicos que eles encontram, discutir como gerir esses vestígios como um patrimônio cultural para os povos, realizar o mapeamento dos sítios arqueológicos em terras indígenas, mapeando o que identificam como áreas importantes, ou como áreas de vestígios arqueológicos em suas terras, e debater a gestão de sítios e vestígios arqueológicos.
Também se discutiu sobre as florestas culturais, manejadas pelos antepassados, e as marcas que sociedades humanas deixam nas florestas. Uma das discussões com os AAFIs, foi que as florestas não são somente naturais, as florestas também tem um manejo, e dependendo como é feito permite a conservação dos recursos naturais. Sendo essa, uma forte linha de atuação dos AAFIs em suas TIs, do manejo dos recursos florestais, na gestão territorial e ambiental, permitindo que mais de 99% de área das TIs tenham sua cobertura florestal conservada e a garantia da manutenção de serviços ambientais.