Os povos Jaminawa e Manchineri, que compartilham a Terra Indígena Mamoadate, estiveram reunidos na aldeia Peri, entre os dias 9 e 23 de setembro, para a realização da I Oficina de atualização do etnozoneamento e revisão do seu Plano de Gestão Territorial e Ambiental. A atividade foi promovida pela Comissão Pró- Índio do Acre (CPI-Acre), com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), através do Projeto Gestão Ambiental e Territorial Indígena (GATI).
Durante a oficina, participaram mais de 90 indígenas dos dois povos, entre eles lideranças, professores e Agentes Agroflorestais Indígenas (AAFIs). O objetivo foi atualizar os mapas temáticos do etnozoneamento elaborados em oficinas anteriores para aprofundar, revisar e validar as informações sistematizadas. O material produzido vai subsidiar a revisão do Plano de Gestão Territorial e Ambiental da Terra Indígena Mamoadate, realizado em 2005.
A TI Mamoadate é uma das áreas de referência do Núcleo Regional Amazônia Ocidental do Projeto GATI. Seu território é atravessado pelo rio Iaco, afluente da margem direita do rio Purus, onde vivem os povos Manchineri e Jaminawa e grupos de indígenas isolados. Com uma superfície de 314.647 hectares, a terra indígena faz limite com o Peru a oeste, com a Estação Ecológica do Rio Acre ao sul, com a TI Cabeceira do Rio Acre a sudeste e com o Parque Estadual do Chandless ao norte. Nas suas proximidades, está localizada a Reserva Extrativista Chico Mendes, formando um conjunto de áreas protegidas com cobertura florestal praticamente inalterada. Os levantamentos realizados pelo governo do Acre, tanto no processo de etnozoneamento da TI, como nas Unidades de Conservação, apontam a área como uma região de grande diversidade e valor biológico e sociocultural para o estado do Acre.
O objetivo do projeto GATI é fortalecer as práticas indígenas de manejo, uso sustentável e conservação dos recursos naturais e a inclusão social dos povos indígenas, consolidando a contribuição das terras indígenas como áreas essenciais para conservação da diversidade biológica e cultural nos biomas florestais brasileiros. O projeto também promove o protagonismo indígena na construção de políticas públicas de gestão ambiental e territorial de TIs, fomentando desta forma a proteção e a segurança dos meios de vida desses povos.
“Sempre devemos explicar para os nossos filhos a importância de plantar uma árvore após derrubar outra. Também devemos valorizar o conhecimento dos nossos velhos sobre o uso das plantas medicinais existentes na nossa floresta. Algumas plantas medicinais estão ficando muito distante das aldeias. Vamos então trazer sementes e mudas para mais próximo da gente. A formação dos nossos AAFIs é fundamental para cuidarmos dos nossos recursos florestais. O plano de gestão é muito importante para o povo da Terra Indígena Mamoadate”, explica a liderança Lucas Artur Manchineri.
Geraldo Jaminawa acredita que essa é a grande oportunidade de se discutir o futuro com os seus parentes Manchineri. “Compartilhamos o mesmo território e precisamos somar forças nessa luta de melhoria da nossa Terra Indígena Mamoadate. Antes não sabíamos o que era um Plano de Gestão. No tempo dos nossos velhos caciques não tinha esse tipo de trabalho. Agora vejo que temos muito o que aprender e compartilhar experiências na construção desse plano. Vamos aproveitar para refletir com as comunidades, como era o nosso passado e olhar para o futuro, atentos em como estamos caminhando”.