Inicia nesta terça-feira, 15, no Centro de Formação dos Povos da Floresta (CFPF), em Rio Branco, o XXVII Curso de Formação de Agentes Agroflorestais Indígenas (AAFIs). O curso que acontece anualmente desde 1996 é coordenado pela Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre) em parceria com a Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre (AMAAIAC) e, por conta da pandemia do coronavírus, estava com as atividades presenciais no CFPF paralisadas.
O retorno das aulas segue todos os protocolos de segurança contra COVID-19, com turmas reduzidas de 15 AAFIs que ficarão um mês imersos na formação. De acordo com coordenadora executiva da CPI-Acre, Vera Olinda, todos participantes, mediadores e colaboradores do curso farão testes de COVID-19 e a apresentação da carteira de vacinação com a imunização completa contra COVID-19 será exigida, além de serem mantidos o distanciamento e o uso de máscaras.
“Estamos de fato implementado um novo modo de viver e de trabalhar”, destaca Vera, acrescentando que as várias atividades que acontecem no CFPF são apoio e fortalecimento dos povos indígenas em suas lutas pela manutenção dos direitos. “Retomamos gradualmente os cursos presenciais desde outubro do ano passado, em um momento de muitas investidas contra os direitos indígenas. A formação, a troca de conhecimentos e de informações ajuda a conter essas investidas”, afirma.
Os AAFIs que estarão no CFPF são representantes dos povos Huni Kuĩ, Jaminawa Arara, Shawãdawa, Nawa, Nukini e Ashaninka e Yawanawa, de 11 terras indígenas do Acre: Alto Rio Purus, Kaxinawa do Rio Jordão, Jaminawa Arara do Rio Bagé, Arara do Igarapé Humaitá, Nawa, Nukini, Kampa do Igarapé Primavera, Kaxinawa do Rio Humaita, Katukina/Kaxinawa, Kaxinawa do Seringal Curralinho e Kaxinawa Nova Olinda. Durante toda pandemia, os AAFIs trabalharam em suas terras indígenas, assessorando a comunidade e outros AAFIs, realizando oficinas e viagens de intercâmbios, todas atividades que fazem parte da formação.
O XXVII Curso de Formação é realizado com apoio do Programa REM, resultado do termo firmado em 2018 entre a CPI-Acre e a então Secretaria de Estado do Meio Ambiente – SEMA (hoje Semapi), que financia o Projeto Formação de AAFIs. Por meio do Sistema de Serviços Ambientais do Acre (SISA), o estado do Acre captou nos últimos anos financiamentos internacionais para implementação dos Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs), formação e remuneração dos AAFIs e formação de lideranças em temas de mudanças climáticas e serviços ambientais. A formação técnica e profissionalizante de AAFIs é uma linha de ação do Programa REM fase II, dentro do subprograma territórios indígenas, uma conquista da participação indígena desde o início do programa no Acre em 2014.
“O curso é muito importante para dar continuidade ao que os AAFIs já vêm fazendo nas suas terras, seja o reflorestamento, a produção de alimentos e toda contribuição com a manutenção do clima quando protegem e cuidam da floresta”, destaca Marcondes Rosa Puyanawa, AAFI e coordenador da AMAAIAC. Ele chama a atenção para a urgência no reconhecimento da categoria profissional dos AAFIs, com currículo e profissão regulamentada. “Nosso trabalho é plantar, cuidar e conservar esta riqueza que atende todo o planeta, um serviço ambiental que precisa ser reconhecido”, acrescenta.
O CFPF é uma escola com unidades demonstrativas de Sistemas Agroflorestais (SAFs) e de criação de animais, viveiros, hortas, e que tem o reconhecimento do Conselho Estadual de Educação do Acre para emitir certificado como ensino médio técnico profissionalizante. Na primeira semana de curso serão ministradas as disciplinas Artes e Ofício e Ecologia Indígena, e até a segunda quinzena de abril os AAFIs passarão por aulas de Criação e Manejo de Animais Doméstico e Silvestre; Saúde Ambiental; Cartografia Indígena; Horta Orgânica; Língua Indígena e Portuguesa; Matemática; Fundamentos e Diretrizes da Função do AAFI, Tecnologia Social, Informática e Agrofloresta.
“Voltar para o curso presencial é muito animador, principalmente nesta época de grande fragilidade no país das políticas de proteção dos recursos naturais e dos povos indígenas, querendo abrir as terras indígenas para mineração e destruição das florestas”, diz Renato Antonio Gavazzi, coordenador pedagógico do Curso de Formação de AAFIs.
Há hoje no Acre um total de 232 Agentes Agroflorestais Indígenas que atuam implementando e atualizando os PGTAs de suas terras. A CPI-Acre trabalha há mais de duas décadas com esta formação de AAFIs, que recebe apoio financeiro do Fundo Amazônia/BNDES, Rainforest Foundation da Noruega (RFN), NORAD/Norway’s International Climate and Forest Initiative (NICFI), Secretaria de Estado do Meio Ambiente e das Políticas Indígenas (Semapi)/Programa REM e Manos Unidas. (Comunicação/CPI-Acre)