Lideranças indígenas e não indígenas de diversos países, reunidas no Comitê Global de Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais da Força-Tarefa dos Governadores para o Clima e Florestas (GCF Task Force) visitaram na manhã desta quarta-feira, 21, o Centro de Formação dos Povos da Floresta (CFPF), sede da Comissão Pró-Indígenas do Acre (CPI-Acre), em Rio Branco. A atividade integrou a programação da 15ª GCF Task Force, que iniciou no dia 19 e segue até o dia 23 de junho, na capital acreana.

A secretária extraordinária de Povos Indígenas e presidente do Comitê Global da GCF, Francisca Arara, que organizou a visita ao CFPF, falou no encontro sobre o objetivo da visita.  “O Comitê Global faz parte da Força-Tarefa dos Governadores e estamos aqui na CPI-Acre para mostrar a governança e as salvaguardas que nós temos em relação aos povos indígenas, mostrando os desafios e avanços. O objetivo é mostrar como essas políticas podem influenciar na GCF. É preciso um alinhamento para respeitar os territórios e os direitos dos povos originários. O Acre tem essa cultura de dialogar e ter a participação das nossas comunidades indígenas”, disse.

A ida ao CFPF faz parte do evento Rotas, que levou participantes do encontro de governadores para diversas localidades do estado. No CFPF, o grupo pôde conhecer as experiências ligadas ao monitoramento territorial indígena no Acre e a segurança alimentar nas aldeias, especialmente sobre o trabalho dos Agentes Agroflorestais Indígenas (AAFIs). A programação também contou com a exibição da animação Nós, Mulheres Indígenas Cuidando da Floresta e do Clima. O filme levantou reflexões sobre governança, clima e o papel essencial das mulheres indígenas na proteção dos biomas.

Durante a visita, o grupo acompanhou uma roda de conversa com monitores indígenas que estão no CFPF participando da Oficina de Monitoramento Territorial Indígena. Jovens e lideranças de oito Terras Indígenas (TIs) compartilharam as práticas de vigilância para proteção territorial e falaram sobre os desafios neste trabalho, como a escassez de recursos, a dificuldade de acesso às áreas remotas e a presença recorrente de invasores.

“Temos preocupação com a nossa segurança, e por isso é importante termos uma estrutura material para realizar o monitoramento, com equipamentos como drone, rádio e GPS, além das câmeras. É o que a gente precisa hoje para fortalecer o trabalho”, explica Manoel de Paula Sabóia, da TI Kaxinawá do Rio Humaitá, onde há presença de indígenas isolados.

A comunicadora indígena e monitora da TI Nukini, Samsara Nukini, destacou a importância de integrar comunicação e monitoramento territorial. “Mostrei como usamos as tecnologias, como os aplicativos Avenza, Timestamp e Alerta Clima Indígena para registrar imagens, produzir relatórios e fortalecer nossas denúncias. Mas também ressaltei o quanto precisamos ouvir os nossos anciãos, escutar os mais velhos para que tecnologia e saberes ancestrais caminhem juntos”, disse Samsara, que também apontou a urgência de projetos que garantam a permanência da juventude nos territórios, combatendo ameaças como as atividades ilícitas e a migração forçada. “Não basta formar, é preciso ter políticas públicas e investimento. A juventude quer ficar, quer lutar, mas precisamos de oportunidades concretas”, acrescentou.

Basilio Velázquez, que está no Acre representando o povo Maia do estado de Quintana Roo, no México, falou sobre a escuta direta dos povos indígenas: “É necessário colocar na mesa os nossos desafios, as vivências dos nossos territórios. Cada povo tem sua particularidade, e é nesses fóruns que podemos ecoar nossas vozes e exigir respeito aos nossos direitos frente à crise climática.”

Além de chamar a atenção para o papel do intercâmbio entre diferentes povos e culturas — uma das principais estratégias formativas da CPI-Acre —, a coordenadora executiva da CPI-Acre, Vera Olinda Sena, falou sobre os avanços necessários no processo de governança. “Agradeço a secretária Francisca, que possibilitou mostrar essa experiência de formação. O intercâmbio é uma maneira de influenciar e incidir, muito mais realista. O Centro de Formação dos Povos da Floresta é um espaço singular em termos de modelos demonstrativos e de reflorestamento. Em relação à governança do SISA, foi importante mostrar ao Comitê Global que a governança é séria, mas ainda apresenta fragilidades, e que o espaço mantém as diferenças entre sociedade civil e governos”.

Quanto à repartição de benefícios, Vera destacou que é chave acompanhar se as decisões das consultas serão acatadas e realizar o monitoramento e as avaliações para promover os ajustes necessários. “A questão é discutir e definir uma repartição justa de benefícios para a conservação. Acreditamos que o Comitê Global deve pautar esse ponto. Há também a necessidade de trazer outras áreas [secretarias] do governo para o debate. A SEPI, o IMC, a SEMA e a SEPLAN estão articuladas, o que é bom, mas a política de clima vai além”, concluiu.

Pela segunda vez no CFPF, o norte-americano Steve Swartzman, do Fundo de Defesa de Meio-Ambiente (EDF), avaliou positivamente a troca de experiências na CPI-Acre. “O EDF acha um grande privilégio apoiar não só essa reunião, mas todo o processo de consultas aos povos indígenas, sobre a possibilidade de participarem do programa do Estado do Acre, para receberem recursos pela redução de desmatamento. Eu estive aqui há muitos anos e me lembro como era esse espaço da CPI antes do projeto de reflorestamento. Essa mudança precisa ser divulgada para o mundo. Assim como a formação de jovens e lideranças indígenas que acontecem aqui. Essa é uma demonstração da resiliência das culturas indígenas”, afirmou Steve.

A Força-Tarefa dos Governadores para o Clima e Florestas (GCF Task Force) é uma aliança internacional de governos subnacionais que atuam pela conservação das florestas tropicais e pela redução das emissões causadas pelo desmatamento, sempre em parceria com comunidades locais e povos indígenas. (Comunicação/CPI-Acre com informações da Agência Acre).