A valorização dos saberes tradicionais e os desafios da educação indígena e popular no Brasil foram o foco do I Seminário de Educação Popular e Contextualizada, promovido pelo Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB). O evento, realizado entre os dias 18 e 20 de março, em São Luís, Maranhão, reuniu quebradeiras de coco babaçu dos estados do Maranhão, Tocantins, Pará e Piauí, além de organizações sociais que atuam na educação popular em comunidades tradicionais.
A Comissão Pró-Indígenas do Acre (CPI-Acre) esteve presente no encontro, representada pela coordenadora, Vera Olinda Sena de Paiva, que contribuiu com a experiência da organização na formação de professores e Agentes Agroflorestais Indígenas (AAFIs), além da gestão do Centro de Formação dos Povos da Floresta (CFPF). A instituição participou da mesa de debate “Movimentos Sociais e Luta por uma Educação pensada por Nós e para Nós”, trazendo reflexões sobre a importância de uma educação intercultural que respeite os conhecimentos dos povos indígenas e comunidades tradicionais, promovendo diálogo entre diferentes formas de saber.
“A educação é uma riqueza! A formação diferenciada e contextualizada traz sentido e pertencimento para os alunos indígenas. Fazer os cursos é valorizar conhecimentos indígenas, culturas, línguas…promover o diálogo entre saberes, a sistematização de conhecimentos. A educação sempre teve o propósito de promover o crescimento dos alunos em suas comunidades.
Os centros de formação são ajudam muito, pois não se trata apenas de oferecer estrutura física adequada para cursos intensivos, mas de construir projetos políticos pedagógicos com escuta e participação, garantindo a aplicação de conceitos, conteúdos e metodologias que melhorem as comunidades. Diferente da escola formal, os centros de formação dialogam com diferentes conhecimentos, sem excessos e sem o distanciamento dos conteúdos prescritivos,” destacou Vera Olinda.
A jovem Valéria Maria, de 19 anos, do MIQCB-Pará, destacou como a educação contextualizada já transformou e ampliou sua visão sobre o aprendizado. “O seminário está sendo uma experiência incrível, com a participação de diversas entidades que apoiam esse processo. O Centro de Formação [das Quebradeiras de Coco Babaçu] abriu muitas portas para mim, inclusive a oportunidade de ingressar no Instituto Federal do Pará (IFPA). Aqui, percebo o quanto essa educação é essencial para fortalecer nossas identidades e nos ensinar sobre o respeito ao próximo, à natureza e à nossa cultura. É muito gratificante ver que existem tantas iniciativas voltadas para a educação de comunidades tradicionais. O seminário reforçou para mim a importância de formar futuros protetores da natureza, dos seres humanos e dos animais, sempre com uma perspectiva que valorize o que é natural e coletivo, fugindo da lógica do capitalismo predatório”, afirmou.
Como um dos encaminhamentos do evento, foi a proposta a realização de intercâmbios entre as quebradeiras de coco babaçu, as mulheres AAFI e o Coletivo Mulheres Indígenas que participam da formação em Gênero e Gestão Financeira no Centro de Formação dos Povos da Floresta, da CPI-Acre.
Os intercâmbios são uma das etapas da formação do CFPF, onde diferentes comunidades compartilham suas experiências, saberes, desafios e práticas, promovendo alianças e diversas aprendizagens.
O Centro de Formação das Quebradeiras de Coco Babaçu foi criado pelo MIQCB com apoio do projeto Floresta de Babaçu em Pé, com financiamento do Fundo Amazônia e gestão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Em quase dois anos de atividades, o espaço tem sido fundamental para a formação, capacitação e organização das quebradeiras de coco, fortalecendo suas práticas tradicionais e ampliando sua participação na defesa de seus territórios.
Já o Centro de Formação dos Povos da Floresta da CPI-Acre, localizado em Rio Branco, desempenha papel semelhante na educação indígena, acumulando experiências e metodologias que contribuem para fortalecer a educação popular em outras regiões. Essa aproximação entre a CPI-Acre e o MIQCB reforça a importância da educação contextualizada na luta por direitos, autonomia e valorização dos povos indígenas e comunidades tradicionais. (Comunicação CPI-Acre)