O Centro de Formação dos Povos da Floresta (CFPF), sede da Comissão Pró Índio do Acre (CPI-Acre), em Rio Branco, foi atingido por um incêndio que se espalhou pela área de agrofloresta no km 07 da estrada Transacreana, afetando também áreas residenciais de vizinhos do entorno. Os primeiros focos de fogo adentraram o CFPF na noite de quarta-feira, 31. 

Indígenas que estavam hospedados no local para uma reunião juntaram-se à equipe da CPI-Acre para conter os pontos atingidos pelo incêndio. Eles usaram mochilas antichamas, luvas, abafadores de fogo, óculos de proteção, capacetes e coturnos, que foram adquiridos para equipar as brigadas indígenas em formação no Acre (ver abaixo), além dos equipamentos de combate ao fogo que o CFPF possui. 

Duas equipes, da Brigada Joane Gerônimo da APA São Francisco e da brigada do ICMBio, atuantes na Transacreana, juntaram esforços a partir da quinta-feira e conseguiram impedir que o fogo avançasse ainda mais. No entanto, parte de uma área refloresta foi destruída pelo fogo, que chegou muito próximo ao Sistema Agroflorestal (SAFs) Castanheira, o mais novo do CFPF.  

“O CFPF é todo protegido por aceiro, mas o vento trouxe faíscas das chamas que estavam se espalhando nas áreas vizinhas e o fogo foi circulando o sítio. Conseguimos controlar para não atingir o SAF que possui árvores de castanheiras, copaíba, pupunha, açaí e outras espécies da Amazônia brasileira. Estamos aqui acompanhando constantemente os focos de fogo ao redor para, se for necessário, conter antes de aumentar muito”, diz Paulo Belo, técnico agroflorestal que trabalha no CFPF há mais de 20 anos.  

Essa não é a primeira vez que o fogo atinge o CFPF. Todos os anos no período de seca amazônica são detectados no entorno muitos focos de queimadas, que na maioria das vezes são contidos antes de se alastrarem.  Para aumentar a proteção da área, está previsto para outubro, em parceria com o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo/Ibama) e o Serviço Florestal Norte-Americano (USFS), um curso de formação de brigadistas para atuação no combate a incêndios no Centro de Formação. 

Adquirida pela CPI-Acre em 1994, a área que hoje possui centenas de espécies de plantas, era toda desmatada. A devastação foi dando lugar a uma rica cobertura florestal, com árvores frutíferas, madeiras de lei, palheiras e plantas medicinais, como resultado de mais de 25 anos de trabalho com atividade intensa de reflorestamento, realizado pela equipe técnica da CPI-Acre e, em cursos de formação, com agentes de saúde, professores e agentes agroflorestais indígenas (AAFIs) que tem nesses modelos de plantios as aulas práticas relacionadas à implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs) para replicá-los nas Terras Indígenas. Esta é uma das poucas áreas nesta região da Transacreana, em Rio Branco, que foi restaurada com Sistemas Agroflorestais (SAFs). 

O CFPF possui 31 hectares com 5 SAF’s, criação de aves (patos e galinhas) e estrutura (alojamentos, refeitório, sala de aula) para receber alunos que participam das diversas formações, cursos e oficinas. É também no CFPF que funciona a sede administrativa e técnica da CPI-Acre e o Centro de Documentação e Pesquisa Indígena (CDPI). 

 

Formação de brigadistas indígenas 

Em 2019, a CPI-Acre iniciou, junto com associações e lideranças das Terras Indígenas (TI) Mamoadate e Katukina/ Kaxinawa, com apoio financeiro do WWF Brasil e da Rainforest Foundation Norway (RFN), um movimento de treinamento e equipagem de indígenas para prevenir incêndios em seus territórios e no entorno, e ainda manejar o fogo em suas áreas de roçado. 

Desde o início de 2022, vem sendo realizados nas duas TIs cursos de formação de brigadistas indígenas, como parte do projeto “Manejo do fogo e combate e prevenção a incêndios florestais em Terras Indígenas no Acre”, executado pela CPI-Acre e o Serviço Florestal Norte Americano (USFS), com o apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e parceria com o Prevfogo/IBAMA. (Comunicação/CPI-Acre)