Maria Luiza Pinedo Ochoa, coordenadora do Programa Políticas Públicas e Articulação Regional e do projeto Corredor Socioambiental Alto Juruá-Purus. Foto: Comunicação/CPI-Acre

O Centro de Formação dos Povos da Floresta (CFPF) da Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre) recebeu nesta quarta e quinta-feira (9 e 10), indígenas das Terras Indígenas (TIs) do Mamoadate e da Cabeceira do Rio Acre e populações tradicionais da Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes para, com instituições governamentais e não-governamentais, discutirem soluções para a criação de um Plano de Gestão Integrada entre as TIs e a Resex.

Participaram da reunião representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA), do Comitê Chico Mendes, do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), da Associação de Produtores da Reserva Extrativista Chico Mendes de Assis Brasil ( AMOPREAB) e da ONG União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Todos os participantes tiveram espaço para apresentar as iniciativas de gestão compartilhada e as experiências de diálogos entre as comunidades.

Realizada em parceria com a Associação dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre (AMAAIAC) e a Organização dos Professores Indígenas do Acre (OPIAC), a iniciativa faz parte do Projeto Corredor Socioambiental Alto Juruá-Purus, do Programa de Políticas Públicas da CPI-Acre com apoio da Rainforest Foundation Norway (RFN). O foco de atuação do projeto são áreas protegidas que, pela disposição geográfica, formam um mosaico de sete Unidades de Conservação (UCs) e 18 Terras Indígenas (TIs) na faixa de fronteira com o Peru.

“O principal objetivo do Corredor Socioambiental é a gestão integrada e o diálogo não só entre as comunidades, mas entre as instituições que também são responsáveis pela proteção dessas áreas”, explica o assessor e técnico em geoprocessamento da CPI-Acre, José Frank de Melo Silva, que apresentou o projeto para os participantes da reunião.

Durante os dois dias do evento indígenas e extrativistas relataram problemas diversos que enfrentam, que vão desde a invasão de madeireiros e caçadores ilegais, construção de ramais e principalmente, o avanço da pecuária nas áreas de preservação da floresta. “Eu nunca tinha visto algo tão alastrador e com tantas invasões. Estão abrindo pastos com a certeza da impunidade e dizendo que a Reserva Chico Mendes vai acabar”, relatou José Rodrigues de Araújo, presidente da AMOPREAB e coordenador no Acre do CNS.

A gestora ambiental Ângela Mendes, coordenadora do Comitê Chico Mendes que leva o nome do pai, falou da necessidade de espaços de discussão que possam unificar as comunidades que têm uma luta comum. “Devemos dar a comunidade a capacidade de reivindicar suas próprias necessidades e investir mais na construção desse empoderamento, que é o que estamos construindo aqui”, disse.

Toya Manchinere fala sobre as ameaças na TI Mamoadate. Foto: Comunicação/CPI-Acre

No último dia do evento, indígenas e extrativistas planejaram com as instituições a realização de uma Oficina de Gestão Integrada ainda no primeiro semestre deste ano. “O momento é de unificar nossas forças. Nós somos muito próximos da Resex Chico Mendes e se nos unirmos teremos mais condições de lidar com as ameaças às nossas terras”, conta Toya Manchinere, da TI Mamoadate.

Projeto Corredor Socioambiental

O projeto “Corredor Socioambiental Alto Juruá – Purus: Conservação de florestas e promoção de direitos dos povos indígenas e tradicionais” empenha-se na constituição de uma rede de articulação interinstitucional e o desenvolvimento de ações que promovam o diálogo e a troca de informações entre populações locais, órgãos governamentais e instituições não governamentais. O objetivo destas parceiras é a criação de estratégias coordenadas de gestão territorial e ambiental, promoção de direitos e participação em políticas públicas. (Comunicação/CPI-Acre)