Agentes ambientais Apurinã (esq.) com Agentes Agroflorestais Indígenas. (foto:Leilane Marinho)

Dez agentes ambientais do povo Apurinã da Terra Indígena Peneri-Tacaquiri, no Amazonas, estiveram na semana passada no Centro de Formação dos Povos da Floresta (CFPF) intercambiando experiências com os Agentes Agroflorestais Indígenas (AAFIs) no Acre. Apoiados pela Fundação Nacional do Índio (Funai), os agentes ambientais chegaram na terça-feira, 12, para participar da última semana do XXVI Curso de Formação de Agentes Agroflorestais Indígenas que finalizou sábado, 16.

“Os povos indígenas no Acre são referências no Brasil com esse trabalho de gestão territorial e agentes agroflorestais indígenas, queremos conhecer como está sendo realizado aqui para replicar as boas experiências no nosso território” conta Evangelista Apurinã. Ele explica que os cuidados com o território é tradicional, realizado desde sempre pelos indígenas, no entanto, o termo agente ambiental ainda é novo na TI Peneri-Tacaquiri. “Realizamos uma oficina com a Funai em outubro para organizar a formação de modo participativo, os módulos e os temas que serão trabalhados e no final apresentaremos um plano de gestão ambiental e territorial ou o mapeamento do território. O intercâmbio no CFPF é o primeiro passo na formação dos agentes ambientais Apurinã”, disse Evangelista, que é servidor da Funai e atua como chefe da Coordenação Técnica Local (CTL) de Pauini. Na região do sul do Amazonas, o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) tem implementando cursos de Gestão Territorial e Ambiental com agentes Apurinã em parceria com organizações indígenas e a Funai.

Na quarta-feira, 13, a diretoria da Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas (AMAAIAC) apresentou para grupo o histórico da associação e sua organização. “Em 2002 surgiu a ideia de formar a AMAAIAC para ser a voz da nossa categoria. De lá para cá aprovamos em assembleia os critérios para se tornar um Agente Agroflorestal Indígena, nossos princípios e fundamentos, o que a comunidade deve considerar na hora de escolher o AAFI”, lembrou Ismael Siã Brandão, AAFI da TI Katukina – Kaxinawa.

Edison Bulhões Barbosa Apurinã, da Organização dos Povos Indígenas Apurinã e Jamamadi (OPIAJ), destacou que a experiência dos AAFIs na administração da AMAAIAC é um ponto positivo que ele deseja replicar nas associações indígenas da TI Peneri-Tacaquiri. “Vocês estão trabalhando e administrando diretamente a associação que os representam e isso é muito rico, desperta em outros jovens o interesse de também ser participativo na organização”, falou.

O coordenador executivo da Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre), Gleyson Teixeira, explicou que intercâmbio entre povos indígenas de diferentes territórios é uma experiência que faz parte do currículo da formação de AAFIs. “Quando observamos a experiência do outro, nossas capacidades crescem. Na formação, um dos momentos que consideramos mais importantes são os intercâmbios, essa troca de saberes. Fala- se muito hoje de transferir tecnologias, mas na verdade são diálogos, experiências interculturais”, ressaltou.

Na reunião com os AAFIs, Alex Sena Apurinã, coordenador regional da Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus (FOCIMP), disse que, embora os territórios sejam diferentes, as preocupações dos indígenas são as mesmas: proteção do território, cuidado com a caça a pesca, etc.  “Sabemos como proteger nossos territórios, precisamos colocar isso no papel, formalizar nosso trabalho, entender os procedimentos legais. Quando formamos os agentes ambientais, ele vão mapear o território, organizar esse trabalho em um documento”, disse.  Segundo Alex, a TI Peneri – Tacaquiri é constantemente invadida por madeireiros ilegais e a qualificação dos agentes ambientais indígenas foi uma das soluções apresentadas pelas comunidades para enfrentar o problema. “Queremos fazer o curso para nos ajudar a conter essas ameaças. A floresta não serve só para nós indígenas, é para todo mundo”, conclui.

A formação de Agentes Agroflorestais Indígenas iniciou no Acre em 1996, coordenado pela CPI-Acre, com 15 indígenas. Hoje se realiza por meio de uma série de modalidades como cursos anuais, intercâmbios, assessorias técnicas, oficinas em aldeias e pesquisa indígena. Para ampliar a qualidade dos cursos de formação, a CPI-Acre criou o Centro de Formação dos Povos da Floresta (CFPF) que é uma escola com unidades demonstrativas de sistemas agroflorestais (SAFs) e de criação de animais domésticos e silvestres, viveiros, hortas, etc.

Em 2009, com o reconhecimento do Conselho Estadual de Educação do Acre o CFPF passou a emitir também certificado como ensino médio técnico profissionalizante. A 26ª edição Curso de Formação de Agentes Agroflorestais Indígenas é uma das ações do projeto Experiências Indígenas de Gestão Territorial e Ambiental no Acre, financiando pelo Fundo Amazônia/BNDES e executado CPI-Acre, em parceria com a AMAAIAC e as associações de oito Terras Indígenas no Acre.

No encerramento do intercâmbio, os agentes agroflorestais indígenas e os agentes ambientais Apurinã foram categóricos sobre a relevância da atividade, e da importância de apoio para a formação regular dos agentes indígenas. Afirmaram que a troca de conhecimentos, a formação e os intercâmbios devem continuar, pois são caminhos que valorizam a gestão ambiental das Terras Indígenas, protegem as florestas e ajudam na manutenção do clima.  (Comunicação CPI-Acre)