Em todo o Brasil durante o mês de abril se realiza uma agenda de debates sobre as questões indígenas. No Acre, este ano acontece a 8ª edição do evento Abril no Acre Indígena, que é realizado pela Comissão Pró Índio do Acre, pela Organização dos Professores Indígenas do Acre e pela Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre, conforme tem sido divulgado em algumas mídias e redes sociais. Hoje, dia 19 de abril, tem início uma atividade de intercâmbio entre professores e agentes agroflorestais indígenas e estudantes secundaristas da cidade de Rio Branco.
Durante três semanas seguidas cerca de 200 estudantes das escolas Instituto São José, José Rodrigues de Leite, Raimundo Gomes de Oliveira, João Batista Aguiar, Colégio Acreano e Colégio Estadual Barão do Rio Branco estarão em um período de atividades no Centro de Formação dos Povos da Floresta, a primeira escola de formação de indígenas criada no Brasil nos padrões de uma verdadeira educação intercultural, bilíngue e diferenciada, para troca de experiências e de informações com indígenas. Os estudantes secundaristas terão a oportunidade de conversar com os indígenas em rodas de conversas; apreciar uma exposição de esculturas indígenas, com peças feitas por agentes agroflorestais indígenas reaproveitando e reutilizando madeiras, transformando recursos naturais sem uso em arte. Uma visitação aos modelos demonstrativos do Centro de Formação e atividade de plantio no sistema agroflorestal.
A atividade é educativa e integra conhecimentos nas áreas de Artes, Geografia, História, Ciências Naturais, mas pretende trazer questões sobre a convivência com povos que tem modos de vida diferentes, diversidade, respeito às diferenças, às culturas, refletir sobre sustentabilidade. Para Francisca Arara, liderança Shawãdawa, que é uma das coordenadoras do evento Abril no Acre Indígena, este intercâmbio “vai ser bom para que a gente possa conversar com a juventude não indígena, para que eles possam ter esse entendimento sobre os povos indígenas. E também do valor deles como estudante que tem um futuro pela frente, que tem que ser bem informado. Estamos há dias tentando contratar uma pessoa daqui para trabalhar com a gente. Mas tem sido difícil, não tem informação, não tem conhecimento sobre os povos indígenas. E por que temos que chamar para trabalhar com a gente somente a juventude de outros estados? Então, nisso também o intercâmbio vai ajudar”.
Gleyson Teixeira, coordenador executivo da CPI-Acre, espera que “essa iniciativa proporcione aos estudantes novos conteúdos, reflexões e a percepção da permanente contribuição dos povos indígenas para a história regional, nacional e para o debate de importantes questões socioambientais e políticas da atualidade; suas lutas, conquistas e o que os ameaçam. É uma oportunidade para divulgar linguagens e estéticas diversas, desconstruindo a ideia do exótico distante.”
Sérgio Carvalho, presidente da Fundação Garibaldi Brasil, afirma que “existe um grande abismo entre o Acre urbano, de Rio branco e o Acre Indígena. A população ainda possui um distanciamento grande dessa realidade dos povos indígenas e dos povos tradicionais. Iniciativas como essa são muito importantes para fazer uma aproximação e reconexão da própria identidade, pois muito desses jovens são descendentes de indígenas. Essa ponte entre o Acre da floresta e o Acre urbano é uma forma de reconhecer nossa própria história. Aos poucos vamos fechando essa grande lacuna. A prefeitura municipal de Rio Branco, por meio da Fundação Garibaldi do Brasil vê de primeira importância trabalhar o tema da identidade da floresta na capital do estado principalmente com jovens estudantes.”
Este intercâmbio conta com apoio da Fundação Garibaldi Brasil (FGB) e Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM). Para as instituições organizadoras, o envolvimento das Fundações pode ser um passo para a continuidade desta atividade, uma vez que abordar questões indígenas na sala de aula das escolas não indígenas é um compromisso com a qualidade da educação acreana.