As mudanças climáticas, que afetam diretamente os modos de vida dos povos da floresta, foram pauta na Semana Chico Mendes deste ano, ocorrida entre o dia 15 e 22 de dezembro – dia que completou 33 anos do assassinato do líder seringueiro. O encontro aconteceu em Xapuri, no Acre, e contou com diversos espaços de conversa e atividades culturais em torno do tema eleito para essa 32ª edição: “Crise climática: vozes da floresta em defesa do território” .
O evento reuniu representantes de comunidades tradicionais e de povos indígenas, e lideranças que estão engajadas no tema das emergências climáticas em territórios amazônicos. As discussões promovidas no evento levantaram novas perspectivas e atualizações da luta em defesa dos territórios, garantindo a continuidade do legado de Chico Mendes. A presença da juventude foi um destaque nesta edição, que se mostrou mobilizada nas discussões sobre seus territórios, a crise climática e a construção de possíveis estratégias para produzir um “empate” nos impactos socioambientais provocados.
Em parceria com a CPI-Acre, participaram Ixtiwã Nukini, moradora da aldeia Vaga Visu, e Uhnepa Nukini, da aldeia Isã vakevu, TI Nukini, apresentando perspectivas enquanto juventude indígena, reforçando também a reestruturação da Aliança dos Povos da Floresta.
“Chegou a hora dos povos se unirem, aqueles povos que tão passando por conflitos dentro das suas terras. Chega disso, vamos lutar, vamos dizer que a terra é nossa. Você é jovem, tem que defender o que o seu antepassado deixou”, afirmou Uhnepa Nukini.
A reconexão da Aliança dos Povos da Floresta proporciona o entendimento sobre a importância do direito à terra. No entanto, a luta não é somente pela terra e sim pelas florestas, pelos os rios, pelos os animais, pela qualidade do solo…. Assim, a Aliança ajuda a compreender e defender os ambientes, local da identidade cultural, de território coletivo e uso exclusivo das populações da floresta. Essa união se constrói principalmente a partir do diálogo sobre essas questões e de projetos comuns entre os povos que habitam a floresta.
“Pra mim é um orgulho ser índio, é um orgulho defender a essência do meu povo, mostrando pro governo que, enquanto eles têm preconceito contra nós, eu me orgulho de ser indígena. Cada um daqui jovem tem que ter orgulho da sua essência, porque precisamos ser reconhecidos”, acrescenta Uhnepa Nukini.
O fortalecimento e orgulho da identidade, como ressalta Uhnepa, foi bastante reforçado nas falas dos/as jovens durante o evento. Estimular a equidade de gênero, a força juventude e a cultura dos povos da floresta, promove a capacidade de comunicação, articulação e a influência política das mulheres e dos/das jovens. Essa é uma estratégia para a proteção da floresta, visando também a inclusão e protagonismo das populações nas decisões de seus direitos de vida sustentável.
A união dos povos foi uma questão discutida no encontro, visto, principalmente, a necessidade de fortalecer as articulações entre quem cuida da floresta, em um cenário político de graves retrocessos diante dos direitos já conquistados. Soma-se ainda, a disseminação do discurso de que a manutenção das florestas e suas populações são entraves ao desenvolvimento econômico. É necessário que as vozes das pessoas que habitam a floresta sejam ouvidas para a produção de novas narrativas, coerentes com a realidade dos territórios e com a luta em defesa das florestas.
Por fim, para que o legado de Chico Mendes continue sendo semeado, foi discutida no evento a urgência de reforçar investimentos para o fortalecimento institucional das associações das TI e das UC, de modo que os povos estejam preparados para enfrentar as ameaças e exigir que seus direitos sejam garantidos pelo Estado.