Por do sol com fumaça cobrindo as copas das árvores na aldeia Extrema, TI Mamoadate (Foto: Stoney Pinto)

Lideranças Jaminawa e Manxineru da Terra Indígena Mamoadate estão preocupadas com a ação de madeireiros no entorno da TI. Nas atividades de monitoramento e vigilância do território realizada pelos indígenas, foi identificado uma área desmatada que chega a 200 ha de floresta. O entorno da TI Mamoadate é tradicionalmente uma área que sofre grande pressão por parte de madeireiros, grileiros e propostas de infraestrutura como estradas e ramais. Nos últimos anos as lideranças vêm denunciando ao Ministério Público Federal (MPF) a construção de um ramal que pretende interligar um Projeto de Manejo Florestal localizado no Seringal Palmira à cidade de Assis Brasil, ramal que causará impactos sociais e ambientais, ao abrir acesso permitindo exploração madeireira na região.

O recente desmatamento foi denunciado pelas lideranças durante a 1ª Oficina de Enfrentamento às Mudanças Climáticas, realizada pela Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre) em parceria com a Associação Manxineryne Ptohi Kajpa Hajene (MAPPHA), entre os dias 19 de agosto a 2 de setembro nas aldeias Extrema, Betel e Jatobá da TI Mamoadate. A oficina faz parte Projeto Corredor Socioambiental Alto Juruá-Purus, com apoio da Rainforest Foundation Norway (RFN).

Trecho de uma das cartas das lideranças da TI Mamoadate

Cerca de 70 indígenas participavam das oficinas, quando as lideranças Jaminawa e Manxineru decidiram escrever as cartas direcionadas ao poder público acusando a presença dos madeireiros. As três cartas foram encaminhadas na última sexta-feira, 05, à Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Ministério Público Federal (MPF), Instituto de Meio ambiente do Acre (IMAC), Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)

As lideranças que assinaram as cartas disseram ainda que os próprios trabalhadores nas derrubadas das árvores anunciaram uma grande queimada na área desmatada para os próximos dias, podendo se estender até o final do mês de setembro. Além da preocupação com o aumento do desmatamento e focos de incêndios em toda Amazônia, a população da TI Mamoadate está sofrendo sérios danos à saúde devido os incêndios que afetam a região.

Imagem de 1999 mostrando a derrubada de árvores na beira do rio Iaco (Foto: Acervo/CPI-Acre)

A Terra Indígena Mamoadate, demarcada no ano de 1986, está localizada às margens do Rio Iaco em Assis Brasil e possui extensão de 313.647mil hectares e é habitada pelos povos Manxineru e Jaminawa, com um total de 15 aldeias e 1.200 pessoas.  A área entre os igarapés Samarrã e Mamoadate ficou fora na identificação e delimitação da terra em 1978, embora tenha sido reivindicada pelos indígenas. Hoje, essa área é ocupada por fazendeiros e madeireiros que querem construir um ramal, com cerca de 40 km de extensão, para o escoamento de madeira no entorno da TI, bem próximo das aldeias.

A CPI-Acre alerta junto às lideranças indígenas sobre a gravidade do que vem ocorrendo no entorno da TI Mamoadate, especialmente com um contexto nacional e estadual, onde o aumento do desmatamento e focos de calor é considerado o maior dos últimos anos, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) o desmatamento na Amazônia aumentou 222% em agosto deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado,  e reitera a urgência das medidas a serem tomadas pelos órgãos competentes diante das denúncias. (Comunicação/CPI-Acre).