Francisco Piyãko (esq.), Eldo Baku Shanenawa, Edilson Poá Katukina e Vanderlon Damião Kaxinawá. (Foto: Hugo Costa)Uma roda de conversa com o tema “Povos Indígenas no Acre contemporâneo: direitos, ameaças e resistências’’ movimentou a Universidade Federal do Acre (UFAC) no último dia 10, na XI Semana Acadêmica de Ciências Sociais – “As Ciências Sociais e a Sociedade em Crise”.
Com a participação de lideranças de quatro Terras Indígenas (TI) no Acre, a mesa foi uma apresentação do histórico de lutas dos povos indígenas e uma oportunidade para os alunos conhecerem as demandas e a realidade dessas populações. A roda de conversa também fez parte da sequência de atividades do 10º Abril no Acre Indígena, realizado pela Comissão Pró Índio do Acre (CPI-Acre) em parceria com a Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre (AMAAIAC) e Organização dos Professores Indígenas do Acre (OPIAC).
Compuseram a mesa Eldo Carlos (Baku) Shanenawa, vice coordenador da OPIAC e mestrando do programa Letras -Linguagem e Identidade da UFAC; o coordenador da AMAAIAC, Edilson Poá Katukina, da TI Katukina do Campinas; a liderança Ashaninka da Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, Francisco Piyãko, e o Agente Agroflorestal Indígena Vanderlon Damião Kaxinawá, da Terra Indígena Baixo Rio Jordão. A roda foi mediada pelo professor e coordenador do curso de Ciências Sociais Marcos Matos.
Histórico de luta
Francisco Piyãko deu um tom político à discussão com a plateia e abordou as conquistas dos indígenas no Acre. Mencionou que antes do governo pensar políticas públicas para beneficiar os povos indígenas, eles já lutavam para que pudessem existir. “Nós nunca deixamos de cuidar das nossas questões e sabemos que hoje está sendo ainda mais difícil manter nossas conquistas. Como indígenas, nós temos uma clareza muito grande em monitorar aquilo que nos atinge e nos preparar para o diálogo”, disse Piyãko.
Frente ao desmonte na educação pública no Brasil, Piyãko falou sobre a relevância da universidade enquanto espaço de transformação. “Ninguém tira a importância dessas instituições. Precisamos unificar as lutas e deixar esses muros, porque ninguém está seguro”, comentou.
O pedagogo Eldo Baku, por sua vez, envolveu os estudantes com seu carisma e falou sobre a necessidade de afirmação da identidade indígena no Acre. Ele deu o exemplo das escolas indígenas, onde, segundo o pedagogo, as crianças são alfabetizadas com materiais didáticos enviados pela Secretaria Estadual de Educação que são descontextualizados da cultural local. “Nos livros tem canguru, baleia, ema, todos animais aqui do Acre”, ironizou, criticando a falta de investimentos nas escolas indígenas para implementação da educação diferenciada.
Baku lembrou ainda do caso de preconceito contra indígenas envolvendo alunos da UFAC durante o Acampamento Terra Livre (ATL) local, realizado em meados de abril, no qual participavam cerca de 70 lideranças indígenas do Acre, do sul do Amazonas e do noroeste de Rondônia. A caso motivou a comunidade acadêmica e jurídica, além de instituições de Direitos Humanos, indígenas e não indígenas a escreverem uma nota de repúdio solicitando que o crime fosse investigado .
Agentes Agroflorestais
O último tema da roda de conversa foi o trabalho dos agentes agroflorestais indígenas (AAFIs) no Acre, apresentado por Edilson Poá Katukina, coordenador da AMAIAAC. Poá marcou a importância dos 192 AAFIs que realizam o manejo e a gestão dos recursos naturais de TI no Estado. Mas não apenas isso, ele também frisou que o trabalho dos agentes agroflorestais possibilita a autonomia dos povos indígena ao discutir com as comunidades suas demandas e as formas de uso dos seus territórios, por exemplo.
“Nós fazemos um trabalho constante para todo o mundo, para toda a humanidade. Cada AAFI na sua aldeia mantém a floresta em pé. Para nós a floresta é alimento, é vida, a gente não desmata e destrói ”, disse rechaçando a política do governo federal que facilita o desmatamento e os crimes ambientais.
Da Terra Indígena Baixo Rio Jordão, Vanderlon Damião Kaxinawá trouxe sua experiência como agente agroflorestal. Finalizando a roda de conversa, Vanderlon reforçou que todo trabalho realizado pelos AAFIs visa fortalecer a comunidade e manter a cultura indígena viva. “Nosso trabalho se preocupa com o passado, presente e futuro dos povos indígenas, para garantir uma vida saudável, sem poluição. Ser agente não é aprender o conhecimento do branco, mas fortalecer o conhecimento Huni Kuĩ”, disse.
por Leilane Marinho e Estevão Ribeiro