É com grande pesar que recebemos a notícia no dia 15 de novembro de 2023, do falecimento da mestra Bismani Erondina Josefa Kaxinawá, aos 85 anos, na Terra Indígena Kaxinawá da Praia do Carapanã.
Referência para seu povo e para quem a conhecia, Bismani foi uma grande mestra do artesanato da cultura Huni Kuĩ. Além de tecelã em algodão, cerâmica, palha e pinturas corporais, era conhecedora das plantas e com elas fazia medicina e rezas da floresta para a proteção do seu povo.
Para guarda sua memória, reunimos nesse espaço relatos de seus familiares e de pessoas que conviveram com a mestra Bismani. Que as gerações futuras possam buscar nessas memórias vivas a sabedoria dessa anciã, que com muita bravura levou adiante a cultura ancestral do povo Huni Kuĩ.
“Nome da minha vó é Erundina Josefa. O nome indígena dela é Bismani. Ela nasceu em 1930, acho que em 1933, na colocação Califórnia, no rio Breu. E ela é filha de um grande líder, o primeiro líder Huni Kuin do estado, do Jordão. Ele que conquistou a demarcação da nossa terra junto com o Tchai e ela teve isso. Sete filhos, sendo quatro mulheres e três homens, e ela sempre foi muito religiosa, artesã, uma grande artesã, mestra de canê e também conhecedora de plantas medicinais. E também benzedeira, rezadeira. E ela morou muito tempo no Jordão, em 1987, 88, mudou-se para terra indígena na praia do Carapanã. E recentemente ela estava vivendo. Em Tarawaká, no município, junto com a minha duas dias. Aí se precisar de mais alguma informação, é à tua disposição, tá? Muito obrigado”, Zezinho Yube, agente agroflorestal e neto de Bismani
“A Erondina foi uma querida, uma grande amiga, uma mulher muito forte, ao mesmo tempo muito simples, com muita sabedoria. Seus ensinamentos vão fazer muita falta para o seu povo, como mesmo já disse, o professor Joaquim Maná. Ela segue em transformação, e cuidando aí do seu povo, dos povos dessa floresta. Nós não víamos já fazia um bom tempo, mas todo o período da nossa convivência rendeu boas memórias, que agora só consigo me lembrar dela fazendo tear, fazendo as cerâmicas, conversando sobre os kenes e sobre as ervas medicinais. Isso são momentos de muita preciosidade e é com essa alegria que a gente permanece e guarda a Erondina no coração” – Vera Olinda, coordenadora executiva da CPI-Acre
“Erondina Sales Kaxinawá, que carinhosamente passei a chamá-la, desde que a conheci em 1983, de vovó Eron, é a filha mais velha da grande liderança do Jordão, Sueiro Sales. Com Vovó Eron caminhei alguns caminhos para divulgar a sua arte como tecelã em algodão e palha, ceramista, pintura corporal… Uma grande mestra da arte Kui Kuĩ! Junto a nós, a querida fotógrafa @cristianecotrim, que para ajudar na divulgação da arte do Kene, fotografou todos os processos na realização das peças da arte Huni Kuĩ. Além de grande mestra da arte do Kene, Vovó Eron carregava consigo um grande conhecimento de plantas medicinais e rezos curadores. Nesse tempo poucas pessoas sabiam da existência dos Povos Indígenas do Acre- Amazônia Ocidental. Nessas viagens que realizamos juntas, São Paulo, Rio de Janeiro, vovó Eron encantava a todos com sua presença alegre e com seu trabalho. Hoje vovó Eron virou um encantado. Quem sabe um passarinho! Além de finos ensinamentos, vovó Eron deixou no meu coração doce lembranças e muita saudade! Para as novas gerações deixou um legado de muitos conhecimentos, inspiração de uma grande mestra da arte Huni Kuĩ, e uma força imensurável de uma mulher Huni Kuĩ” – Dedê Maia, indigenista