AAFIs Uri Marcos Pereira Lima (esq.), Ninawa Antônio Renildo e Rocildo Barbosa Kaxinawá, durante prática com Avenza Maps (foto: Rafael Alódio/CPI-Acre)

Agentes Agroflorestais Indígenas (AAFIs) das Terras Indígenas (TIs) do Acre contam agora com uma nova tecnologia para monitorar os plantios dos sistemas agroflorestais (SAFs) nas suas comunidades. De 21 a 28 de março, foi realizada a primeira Oficina de Monitoramento em Agrofloresta, no Centro de Formação dos Povos da Floresta (CFPF) da Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre), em Rio Branco. Usando o aplicativo Avenza Maps nos smartphones, os AAFIs poderão agora fazer o levantamento das áreas plantadas – SAFs, roçados e quintais familiares – quantificando o tamanho dessas áreas apenas caminhando em torno delas e com a precisão das tecnologias de geoprocessamento.

“É algo inovador, que fortalece o trabalho do AAFI. Podemos marcar os limites dos SAFs e levantar informações que vão nos ajudar a avançar mais. Muitas vezes eu ficava pensando como poderia melhorar esse trabalho, porque na cultura a gente sempre fez marcação das áreas plantadas com a utilização de varas, e agora vamos agregar esse aplicativo que é muito fácil de usar”, explica Banê Antônio Carvalho, AFFI da TI Nova Olinda.

De interface simples, o Avenza Maps, ao ser instalado no smartphone, pode ser usado sem a necessidade de conexão à internet. Ele possui ferramentas de navegação e orientação com cartografia digital para coleta e registro de dados que, segundo Uri Marcos Pereira de Lima Kaxinawá, AAFI da TI Alto Rio Purus, é muito fácil de usar. “Não é a primeira vez que utilizo o aplicativo, nas atividades de monitoramento e proteção territorial nós iniciamos o uso, mas a novidade é que aprendemos mais sobre como utilizá-lo para medir nossos plantios, realizar os trajetos em volta das áreas, fazer as medições e gerar os mapas”, completa. Parte da turma já havia participado de oficinas de proteção territorial e iniciado o uso do aplicativo Avenza Maps nas atividades do projeto “Proteção dos Povos Indígenas e Tradicionais do Brasil”, que é financiado pelo Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha, por intermédio da rede WWF, e realizado por um consórcio de parceiros formado por Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre), Comitê Chico Mendes, Fiocruz, Fiotec, Imaflora, Kanindé, Pacto das Águas, Projeto Saúde e Alegria (PSA) e WWF-Brasil.

Nesta primeira oficina, participaram 10 AAFIs dos povos Huni Kuĩ, Shanenawa e Shawãdawa de oito terras indígenas do Acre: Alto Rio Purus, Arara do Igarapé Humaitá, Katukina/Kaxinawá, Kaxinawá da Praia do Carapanã, Kaxinawá do Rio Jordão, Kaxinawá do Rio Humaitá, Kaxinawá Igarapé do Caucho e Kaxinawá Nova Olinda. Durante sete dias os indígenas fizeram aulas teóricas – sobre segurança alimentar, agroecologia, cartografia indígena e tecnologias de georreferenciamento – e aulas práticas, treinando o uso do aplicativo Avenza Maps para o mapeamento dos modelos demonstrativos de SAFs no CFPF. Eles adentraram nas áreas de plantios e, divididos em grupos, começaram a mapear os SAFs identificando os mapas com legendas e fotos.  O resultado foi animador: “Quando a gente gera as imagens com o tamanho dos SAFs a gente tem mais confiança de chegar e dizer: é assim que é na nossa terra”, acrescenta Busẽ Sandro Augusto Kaxinawa, da TI Alto Rio Purus.

 

No retorno para as terras indígenas, a turma irá dividir os conhecimentos com AAFIs de outras comunidades. “Essa formação não fica só no meu interesse, vamos passar isso adiante para mais AAFIs, pois isso também vai nos permitir entender a quantidade e o tamanho do nosso trabalho”, conta Yãke Amiraldo Huni Kuĩ, AAFI e consultor indígena da TI Kaxinawá da Praia do Carapanã.

Há hoje no Acre em torno de 200 AAFIs de 14 povos trabalhando em 23 terras indígenas em parceria com a CPI-Acre. “Desde 2007 que trabalho como AAFI e vejo a mudança que essas novas tecnologias estão trazendo.  Vou poder agora ver o resultado deste reflorestando iniciado há muito tempo, calculado em metro [quadrado]. É uma forma de monitorar nossa riqueza, não apenas agrofloresta, mas também os igarapés e rios, ao visualizar os espaçamentos que mostram onde fica a mata ciliar e a mata de refúgio, por exemplo”, explica Ninawa Antônio Renildo Kaxinawá, AAFI da TI Kaxinawá Igarapé do Caucho.

Yãke Amiraldo Huni Kuĩ, AAFI e consultor indígena da TI Kaxinawá da Praia do Carapanã. (foto: Rafael Alódio/CPI-Acre)

“Nas Terras Indígenas, os AAFIs já vêm fazendo o levantamento dos SAFs com a contagem das plantas, anotando as espécies, quais são produtivas e o períodos de produção, mas tinha essa dificuldade em saber o tamanho dessas áreas plantadas. O uso do aplicativo vem somar com esses dados e assim o AAFI tem ganhos significativos, com informações seguras que podem auxiliar na geração de renda e para acessar políticas públicas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)”, conta Kelceane Azevedo, assessora técnica do Programa de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) da CPI-Acre, coordenadora da oficina. A atividade foi realizada em parceria com a Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre (AMAAIC), e faz parte do projeto Gestão Sustentável e Proteção Territorial no Acre Indígena, apoiado pela Rainforest Foundation Norway (RFN).  As informações coletadas também irão compor o banco de dados dos AAFIs na AMAAIAC e no Setor de Geoprocessamento (SEGEO) da CPI-Acre, dando suporte à geração de conhecimento para subsidiar o trabalho dos AAFIs.

“Já participamos de muitos intercâmbios, com povos de várias regiões do país, e não temos conhecimento desse tipo de monitoramento de agrofloresta sendo realizado com agentes agroflorestais indígenas no Brasil. É uma novidade, um aprendizado que vai motivar nosso trabalho”, ressalta Tatxa José Marcondes Rosa, coordenador da AMAAIAC. (Comunicação/CPI-Acre)