Indígenas dos povos Huni Kuĩ, Manxineru, Jaminawa, Nukini, Nawa, Shawãdawa, Ashaninka e Shanenawa de oito Terras Indígenas (TIs) no Acre, estão no Centro de Formação dos Povos da Floresta (CFPF) desde o dia 14 de maio, participando da Oficina de Monitoramento Territorial Indígena, que integra a formação em geotecnologias para vigilância e proteção dos territórios indígenas, promovida pela Comissão Pró-Indígenas do Acre (CPI-Acre). A atividade compõe os projetos Proteção dos Isolados, apoiado pela Rainforest Foundation Norway (RFN) e Proteção de Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil, financiado pelo Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha, por intermédio da rede WWF.

Na oficina, os indígenas estudam noções básicas de cartografia, sensoriamento remoto, uso de GPS e coordenadas geográficas. Aprendem sobre o uso de aplicativos como Alerta Clima Indígena (ACI), SOMAI, GPS Status,  Avenza Maps e Timestamp, este último muito utilizado nas atividades de vigilância para incorporar coordenadas geográficas às imagens. Com essas tecnologias, que também funcionam sem a conexão com uma rede de internet, os indígenas têm construído mapas georreferenciados com registro de ameaças como invasões, desmatamentos e focos de queimadas, e registram também a presença de indígenas isolados.

Nesta última semana da oficina, que encerra dia 30, os indígenas estão aprendendo sobre protocolos de segurança e manutenção de drones e recebendo aulas práticas sobre plano de voo. Desde 2022, com apoio da CPI-Acre, o uso de drone vem sendo incorporado nas expedições de monitoramento territorial, ampliando a capacidade de registros e permitindo alcançar áreas mais distantes com segurança. Os equipamentos também têm sido usados para outras finalidades como, por exemplo, para captar imagens de festas tradicionais.

“Aprender a usar ferramentas como o GPS, os aplicativos e os drones é muito importante, porque me ajuda a cuidar melhor do nosso território. Tudo o que estou aprendendo aqui não é só para mim, é para levar para minha comunidade e contribuir com os outros povos que estão juntos nesse caminho. O monitoramento é uma forma de resistência e proteção para todos nós”, conta Alberline da Silva Brandão Shanenawa, da Aldeia Shaneyhu, da Terra Indígena Katukina/Kaxinawá.

Leonildo Carvalho da Silva, que faz parte do grupo de monitoramento da TI Nawa, explica como são realizadas as expedições de vigilância. “Antes de cada expedição, fazemos uma reunião com a comunidade para planejar tudo com antecedência: barcos, equipamentos, funções de cada pessoa. Nosso monitoramento acontece principalmente nas áreas de fronteira do território, onde registramos sinais de invasão, como caça e desmatamento. Usamos aplicativos e, nas áreas de difícil, acesso utilizamos o drone para termos mais segurança. Sabemos que, se não formos nós a cuidar do nosso território, ninguém de fora vai cuidar. É ali que está nossa vida”, destaca Leonildo, que vive na Aldeia Novo Recreio.

A coordenadora do Setor de Geoprocessamento (Segeo) da CPI-Acre, Branca Medina, destaca que na formação também se discutem estratégias de incidência política.  “Eles fazem a vigilância dos seus limites para identificar invasões de caçada, principalmente, mas também outras ameaças, além de registrar a dinâmica dos povos indígenas em isolamento voluntário para a proteção desses povos. O uso dos aplicativos e drones para o registro das invasões ou do que quer que eles queiram notificar nas expedições de monitoramento ajuda na qualificação das informações para fazer uma denúncia, por exemplo”, explica Branca.

A defesa dos territórios indígenas é um marco histórico que garante a conservação de um relevante patrimônio da sociobiodiversidade e do conhecimento tradicional, mantidos pelos povos indígenas através do uso, manejo e conservação dos recursos naturais. Todos os cursos e oficinas sobre as ações de monitoramento e vigilância, realizadas nas TIs e no CFPF, contribuem com as práticas tradicionais de conservação e proteção descritos nos Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs). (Comunicação/CPI-Acre)