Pensar e definir qual a melhor forma de se trabalhar os conhecimentos Huni Kuĩ nas escolas, e fora delas, é o objetivo da oficina “Política de Educação Escolar Huni Kuĩ”, que acontece entre os dias 25 de novembro e 10 de dezembro de 2016, na aldeia Água Viva, na Terra Indígena Praia da Carapanã, no município de Tarauacá, no Acre.
Durante a oficina, que é uma iniciativa do professor Joaquim Paulo de Lima Kaxinawá, também acontecerá mais uma etapa do Curso de Formação Hãtxa Kuĩ (língua falada pelo povo Huni Kuĩ), para formar os cerca de 280 professores nesta língua. “Desde os anos 2.000 está sendo definida a ortografia do Hãtxa Kuĩ e também as áreas de conhecimentos que podem ser ensinadas nas escolas do povo Huni Kuĩ. Em 2011, na mesma aldeia Água Viva, foi realizado um encontro onde aconteceu a revisão dessa ortografia com a presença dos sábios e de três agentes sociais dessa terra”, explica o idealizador do encontro.
O professor, que é doutor em Linguística pela Universidade de Brasília, também conta que naquela ocasião ficou entendido a necessidade de continuação desse estudo, mas com outros indígenas, e de outras terras indígenas, que também tivessem domínio dos conhecimentos Huni Kuĩ. “Foidefinido que em um novo encontro deveriam estar professores e lideranças das cinco regiões do Acre (Jordão, Marechal Thaumaturgo, Santa Rosa do Purus, Feijó e Tarauacá) onde vive o nosso povo. Portanto, a propostaagora é realizar mais uma etapa de ensino da língua escrita, convidando outros professores e agentes Huni Kuĩ para contribuir com seus saberes nessas duas semanas de estudos”.
Joaquim Mana, como é conhecido, também explica que durante a oficina deste ano os participantes terão a oportunidade de refletir sobre a produção dos materiais didáticos em Hãtxa Kuĩ, que servirão de suporte ao ensino da língua materna, bem como ao ensino das demais áreas de conhecimentos. Ele também destaca que na programação será planejado o “plano decenal” da Educação Escolar Huni Kuĩ, para definir a melhor forma de se trabalhar os conhecimentos Huni Kuĩ, e para debater sobre as áreas de ensino pensadas para essa educação.
“Atualmente, das 12 terras indígenas do povo Huni Kuĩ no Acre, seis se encontram numa situação onde só os mais velhos são falantes e conhecedores da cultura Huni Kuĩ, enquanto os jovens e crianças pouco praticam os conhecimentos e a língua tradicional”, completa Joaquim.
Na primeira semana da oficina, os temas discutidos são: política de educação escolar Huni Kuĩ de cada região; como estão sendo transmitidos esses conhecimentos nas escolas e fora dela; situações da língua Hãtxa Kuĩ; oralidade, escritas, leituras, pesquisas e publicações; planejamentodo plano plurianual da educação escolar Huni Kuĩ. Na segunda semana, a programação traz: práticas pedagógicas; práticas de oralidade, leituras e escritas em Hãtxa Kuĩ; revisão da 2º cartilha de ensino de Hãtxa Kuĩ; revisão e ampliação do “dicionário Huni Kuĩ”; revisão e ampliação do livro de “literatura” em Hãtxa Kuĩ; e produção do terceiro material de ensino de Hãtxa Kuĩ.
Também está programada uma discussão com as organizações parceiras para planejar projetos de apoio a língua e a educação escolar Huni Kuĩ. Nesse sentido, merece destaque a relação da Educação Escolar Huni Kuĩ com a formação de agentes agroflorestais indígenas (AAFIs), na perspectiva que as atividades práticas originadas nos Cursos de Formação de AAFIs se tornem, cada vez mais, conteúdos das escolas Huni Kuĩ, mostrando a integração entre diferentes conhecimentos e práticas interculturais e que contribuamtambém para a implementação dos Planos de Gestão Territorial e Ambiental.
Para a realização da Oficina Joaquim Maná contou com a doação de amigos, em uma animada campanha, apoiada por diversas pessoas que acompanham e contribuem com essas iniciativas há muitos anos, e por instituições como a Organização dos Professores Indígenas do Acre (OPIAC), a Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre), a Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre (AMAAIAC), a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), a Secretaria de Estado de Educação e Esporte do Acre, a Instituto de Mudanças Climáticas (IMC) e a Federação do Povos Huni Kui do Acre (FEPHAC).