foto: Paula Lima
“Uma Experiência de Autoria dos Índios do Acre” era o nome do projeto de formação de professores indígenas coordenado pela CPI-Acre durante 25 anos (1983 – 2008). A ideia condutora do projeto era que os professores indígenas e suas comunidades fossem os principais autores de um inovador processo educativo relacionado às suas escolas e que incluía a construção de um currículo intercultural, de um calendário diferenciado e a produção de material didático próprio nas diversas línguas indígenas dos professores participantes e em português.
Ao longo dos anos, o princípio da autoria indígena foi se expandindo e se tornou uma marca da CPI-Acre. Traduzido em metodologias pedagógicas diversas, o conceito de autoria passou a nortear todas as ações de formação e de assessoria desenvolvidas pela CPI-Acre no sentido de promover a emergência e autonomia dos sujeitos e coletividades indígenas.
Embora subjacente a todas as ações da CPI-Acre, é no campo da produção editorial que o conceito de autoria indígena ganha concretude. Desde a primeira cartilha produzida durante o curso inaugural para monitores indígenas, em 1983, intitulada “Cartilha do Índio Seringueiro”, todos os livros e outros materiais produzidos pela instituição ao longo dos seus 40 anos foram escritos e ilustrados por autores e ilustradores indígenas com co-autoria dos assessores. São aproximadamente 100 publicações, entre cartilhas de alfabetização e pós-alfabetização (em português e nas línguas yawanawa, noke ko’í, shawãdawa, poyanawa, jaminawa, huni kuĩ, ashaninka, manxineru, apurinã), cartilhas de matemática, coletâneas de narrativas míticas e de cantos, livros de história e de geografia, registros de pesquisas realizadas por professores e agentes agroflorestais indígenas sobre a cultura tradicional planos de gestão ambiental e territorial de terras indígenas, entre outros.
Além dos materiais didáticos e paradidáticos, como os cartazes produzidos em oficinas e cursos na instituição, a CPI-Acre também edita e publica dois periódicos informativos destinados ao público indígena e não indígena que circulam nas aldeias do Acre e também fora delas.
O primeiro é o Jornal Yuimakĩ, um informativo semestral com notícias das aldeias do Acre escritas por professores, agentes agroflorestais e lideranças indígenas, e produzido desde 1991. O segundo é o informativo Dinâmicas Transfronteiriças Brasil-Peru, publicado desde 2009, com o objetivo de divulgar as ameaças decorrentes dos grandes empreendimentos em curso na região da fronteira entre Brasil e Peru, e os impactos socioambientais sofridos pelos povos indígenas e outras populações tradicionais que habitam a região.
A coluna Papo de Índio começou a ser publicada na imprensa acreana em 1987 e já virou livro, de autoria do antropólogo e fundador da CPI-Acre Txai Terri Valle de Aquino, responsável pela coluna por duas décadas. O Papo de Índio continua sendo uma tribuna democrática para os povos indígenas e comunidades tradicionais e os artigos são publicados todos os anos durante o mês de abril, como parte da programação do Abril no Acre Indígena.
Por sua originalidade e força estética, essas publicações se tornaram conhecidas em todo o Acre, em outros estados do Brasil e até em outros países. Este é o caso, por exemplo, do livro Shenipabu Miyui (Histórias dos Antigos), uma coletânea bilíngue de narrativas míticas dos Huni Kuĩ (Kaxinawa) que fez parte da lista de livros do vestibular de 2001 da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Um segundo exemplo é o livro Huni Kuĩnẽ Miyui, outra coletânea de narrativas Huni kuĩ organizado pelo professor indígena Joaquim Paulo de Lima Mana, cujo lançamento aconteceu na Feira do Livro de Genebra, em 2002.
Reunimos neste espaço publicações diversas organizadas pela CPI-Acre – ou em parceria – ao longo desses 40 anos de instituição.