A 7ª edição do Abril no Acre Indígena promoveu neste mês duas rodas de conversas no Centro de Formação dos Povos da Floresta, em Rio Branco. A primeira, que teve como objetivo debater a situação da Educação Escolar Indígena no Acre, foi realizada nos dias 14 e 15 de abril. Já a segunda, que discutiu a situação das línguas indígenas no Acre, aconteceu no dia 18. Os dois eventos foram realizados pela Comissão Pró Índio do Acre (CPI-Acre) em parceria com a Organização dos Professores Indígenas do Acre (OPIAC).
A discussão sobre educação reuniu professores indígenas de diversos povos para refletir sobre a realidade e os problemas atuais da educação nas aldeias, sobre a efetivação do direito de consulta estabelecido pela convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário, e também a implementação do Plano Estadual de Educação nas escolas indígenas do estado, que prevê a criação das categorias professor indígena e escola indígena no Acre.
Durante o debate, Fernando Katukina falou sobre a importância do momento atual: “Precisamos entender claramente esse plano estadual de educação”. Joaquim Paulo de Lima Kaxinawá complementou: “O governo planeja ações no plano de educação e tenta cumprir de qualquer maneira sem pensar nos resultados a longo prazo. Não temos acesso aos planos. E quando existe o plano cada gestor o modifica da maneira que bem entende”.
O professor Joaquim também enfatizou a generalização da política educacional que não diferencia de fato a cultura dos povos e nem se adequa à organização social de cada povo. “Existe uma diversidade grande de realidades indígenas e cada povo tem a sua organização e cultura específica”, acrescentou Francisca Arara, coordenadora da OPIAC.
No final do evento, representantes da Secretaria de Educação e Esportes do Acre (SEE) estiverem presentes para apresentar o planejamento da coordenação responsável pela Educação Escolar Indígena no Acre.
Debate com estudantes de Letras
A roda de conversa do dia 18 de abril abordou a situação das línguas e culturas indígenas no Acre, com a presença de pesquisadores e professores indígenas e estudantes do segundo período do curso de Letras Vernáculas da Universidade Federal do Acre (UFAC).
Entre os palestrantes estavam, o primeiro doutor indígena em linguística na Amazônia o professor Joaquim Paulo de Lima Kaxinawá, o mestrando em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB), o professor Lucas Brasil Manchineri, e o acadêmico em pedagogia pela Universidade Paulista (UNIP), Eldo Carlos Shanenawa (Baku). Eles falaram da importância da manutenção das línguas indígenas para cultura dos povos indígenas e sobre as políticas linguísticas.
Joaquim explicou a diversidade linguística dos povos originários do Brasil. Ele disse que se estima que existiam, no ano de 1500, cerca de 1300 povos e línguas indígenas. Hoje, há apenas 305 povos e 274 línguas identificadas. No Acre, dos 15 povos indígenas em contato há mais de um século com a sociedade nacional, apenas 10 ainda mantém a língua materna como a mais falada por toda comunidade. Desta forma, enfatizou a importância da promoção de políticas linguísticas e educacionais para incentivar esses povos a continuarem falando as suas próprias línguas e também para acontecer um trabalho de revitalização entre os povos onde apenas uma pequena parcela é falante.
Lucas Manchineri apontou para a importância da língua para a cultura e a identidade do seu povo, pois é o meio em que se estabelece a relação com meio ambiente, as relações entre seus pares e suas crenças e compreensões de mundo. O mestrando contou também que sonha com sua língua demonstrando a íntima relação entre as relações sociais do povo e sua língua materna.
O último palestrante, o pedagogo em formação Eldo Carlos Shanenawa, falou sobre a falta de conhecimento da sociedade nacional sobre as populações nativas que ainda sofrem com o preconceito. Também afirmou a luta dos povos indígenas para a divulgação dos seus conhecimentos e para a manutenção dos seus direitos já garantidos pela Constituição Federal. Ao concluir, Eldo Carlos frisou a importância da participação dos não indígenas na conscientização da sociedade nacional sobre a diversidade de povos e culturas existentes.