A Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre) tomou conhecimento pela imprensa no último dia 14, que um grupo de 10 a 20 indígenas isolados fizeram contato na aldeia Terra Nova, do povo Madjá (Kulina) da TI Kulina do Rio Envira, que faz limite ao leste com a TI Kaxinawá do Rio Humaitá. Trata-se do povo isolado do Humaitá, como são nomeados pela Frente de Proteção Etnoambiental Envira (FPE Envira), da Funai, que possui duas Bases de Proteção Etnoambiental (BAPEs), a Xinane e D’ouro. A região é considerada um mosaico de áreas naturais protegidas, especialmente de compartilhamento de territórios com esses grupos, e que ainda vem mantendo uma cobertura com mais de 99% de florestas.
Desde a chegada da Covid -19 (novo coronavírus) na TI Kaxinawá do Rio Humaitá a CPI-Acre vem alertando sobre a grave situação dos isolados no Acre. No dia 14 de julho o antropólogo Txai Terri Aquino, conselheiro da CPI-Acre, divulgou um alerta sobre a situação. Terri destacou que “se essas populações [Huni Kuĩ] do entorno forem contaminadas pelo novo coronavírus, os isolados do Humaitá também correm o sério risco de serem contagiado por essa doença respiratório aguda grave, contagiosa, que poderá levar ao seu extermínio, como aconteceu com muitos grupos indígenas durante as epidemias do século passado”.
No dia 16 de julho, lideranças da aldeia São Vicente da TI Kaxinawá do Rio Humaitá entraram em contato com a CPI-Acre preocupados com o risco de contágio da doença Covid-19 entre povos isolados. É exatamente neste período de estiagem, conhecido como verão amazônico, que os avistamentos destes grupos tornam-se mais frequentes. Eles vão às aldeias à procura de tecnologias para seus roçados, como terçados e demais utensílios. Já se passaram mais de 30 dias que divulgamos matéria sobre a presença de isolados na TI Kaxinawá do Rio Humaitá– 45 casos de Covid-19 foram confirmados nas aldeias até o momento- e não há informações do governo federal sobre medidas de proteção específicas para os isolados contra a Covid-19 ou qualquer outra doença que possa ser agravada pelo contato.
No dia 24 de julho, José Carlos Meirelles, que trabalhou muitos anos na FPE Envira, também alertou sobre o contato destes grupos no podcast Atenção, Txai! e recomendou às comunidades que evitassem deixar instrumentos de ferro ou roupas em locais de fácil acesso, que pudessem ser saqueados por isolados na TI Kaxinawá do Rio Humaitá, e falou justamente sobre este grupo, conhecidos como nixinawa – como chama os Huni Kuĩ – que chegou nos últimos dias na TI Kulina do Rio Envira. O podcast foi transmitido por uma semana em todo o Acre, chegando nas aldeias pela programação diária da Rádio Difusora Acreana.
Nesta segunda-feira, 17, Meirelles contou a CPI-Acre que este fato recente nos Madjá (Kulina) pode ter sido causado por alguma problema no território dos isolados, ou mesmo por curiosidade. Nos disse que há muito tempo Cazuza, liderança Madijá, fala que este grupo de isolados anda pelos arredores da aldeia Terra Nova, que é muito próxima dos divisores de água e cabeceiras do rio Humaitá. Meirelles acredita que a falta de alimentos como a caça, não pode ser considerado o motivo do contato, porque moram numa região com fartura de animais e também há extensos roçados nas áreas dos isolados.
A situação dessa aproximação e contato recente na TI Kulina do Rio Envira é bastante preocupante e agravada pela pandemia do novo coronavírus. Todavia, qualquer contato sem acompanhamento de equipes de saúde que tenham experiência com esta situação é gravíssima e fatal. Reforçamos a urgência para que seja implementado a proposta construída pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), sobre o plano de proteção aos isolados ratificada pelo STF com a ADPF 709, que entre outras medidas, pede a instalação de Sala de Situação para a gestão de ações para os povos indígenas em isolamento e de recente contato e a criação de barreiras sanitárias em terras de povos isolados. O governo federal precisa também implementar medidas de proteção e proporcionar condições adequadas de trabalho para os servidores que estão nas frentes de proteção, para que possam realizar o monitoramento e salvar as vidas destas populações. (Comunicação/ CPI-Acre)